quarta-feira, 20 de março de 2024

Horizonte da vida

Quando se desnuda no horizonte

Clarão de um novo dia a vingar

Silvos e cantos o silêncio a recortar

Fazendo graça com o vento no reponte

 

O alvorecer, muitos encantos nos oferece

Bênçãos divinas atendendo nossa prece

É a história que tece capítulos solitários

Anotando a vida em seu invisível diário!

 

A vida oscila mansa, os dias e noites

Em seus recortes temporais exatos

E faz de cada um seu próprio relato

Para lembrar os feitos em seus açoites

 

Transcorre o tempo, as épocas mudam

Emulamos a vida, em sutis recomeços

Somos sempre nossos próprios endereços

Pois todos os momentos nos transmutam

 

As marcas conosco ficam, jamais se apagam

Fazem por nos identificar, nos apresentam

No nosso viver, com maestria se assentam

E por serem nossas, únicas, jamais nos largam

 

Resta saber delas tirar aprendizado

Vivermos livres, felizes, completos

De realizações e afetos, repletos

Entendo o caminho e ritmo do bailado

 

Pois o destino de todos é amar e ser feliz

Por mais dificuldades que se apresente

Um dia, todas ficam pra trás, realmente

É o que o Grande Sábio sempre nos diz!

quinta-feira, 14 de março de 2024

Flor Morena

 Hoje seria aniversário. Escutaria sua voz firme, doce e tranquila como sua personalidade. Receberia as felicitações feliz e levemente comovida, sorrindo plena e altiva, como sempre foi. Sempre a defini com uma só palavra: Amor. Vi, vivi e presenciei poucas pessoas praticarem o amor em atos e gestos como ela. Seu jeito único, dotado de firmeza, impregnado de abnegação sincera em tudo que fazia eram não só um exemplo, eram também contagiantes. Pessoa ímpar, que não só deixou um vazio pela ausência após partir, como também deixou uma lacuna difícil de ser preenchida, devido a sua grandeza como pessoa. Faz falta. Faz muita falta. São os ciclos da vida, bem sabemos. Nos toca aceitar e compreender. Esse aceite fica mais completo quando junto a compreensão, o coroamos de entendimento de seus exemplos diários de cuidado com todos, de doação do próprio tempo em prol de outrem. Talvez isso possa nos demonstrar ainda, o tamanho e profundeza da sabedoria que continha e colocava em prática. Era sensacional. Se colocava nos ambientes de forma definitiva. Literalmente, definia. Não titubeava. Era do tipo “pá-pum!” Sem muita “lenga-lenga”, como ela mesma dizia. Hahaha. Reunia a família com maestria e alegria. Participava, incluía. Agitava e mexia com o povo. Tinha não só o ímpeto de guerreira. Tinha tudo. Combateu as asperezas da vida sempre de peito aberto, sem recuar e sem se entregar para os medos e receios. Venceu todos os obstáculos que a vida lhe colocou no caminho. Batalhou sozinha a incessante guerra da existência durante muito tempo. Sempre a pra sempre, um grande exemplo pra todos nós! Nos resta, diante de tudo, a certeza de que hoje, esteja onde estiver, está bem, está em paz, com coração e alma leves e tranquilos, desfrutando das benesses de amor, cuidado, zelo e carinho que tanto plantou enquanto aqui esteve. Aqui seguimos, levando adiante o legado que nos ensinou e deixou. Espalhando amor em gestos, ações e palavras, como sempre fez! E com a imensa vantagem de ter alguém com tanta luz a olhar por nós! Feliz “cumple”, flor morena!  

Descanso tranquilo

Nos mais vazios dias vividos

Estoura o peito a ausência

Pra quem tem na essência

Sentimentos bem resolvidos

 

Mão do tempo, espalmando

Gesto simples a questionar

Parecendo mesmo se preocupar

Que fazes, solito, andando?

 

Deveria saber ele, de tudo

Entender as simples escolhas

Assim como quedam as folhas

O destino, golpeia topetudo

 

A cada mate bem sorvido

Aventa ideias de esvoaçar

Emalar poncho, gauderiar

Mas há compromisso assumido

 

Ganhar léguas, estradear

Vai ficando pra mais adiante

Embora ninguém garante

Que adiante, cá vamos estar

 

Nos resta hoje, aqui e agora

Para viver, ser, sentir, estar

Tocando, tenteando onde rumar

Sabendo como se revigora

 

É a vida, sem nenhum rascunho

Cobrando mansamente o legado

De quem já chegou destinado

A viver da força do próprio punho

 

E assim sucedem nossos dias

Buscando conforto na solitude

Entendo a vida e sua face rude

Pra quem se nega à covardia

 

Mais dura se torna a rotina

Mais forte o açoite arde

Do descansar sem alarde

De uma consciência tranquila

domingo, 10 de março de 2024

Sempre há motivo

O amor não nasce de graça

Nasce antes de cruzar o olhar

Pois olhando fundo sem mirar

O espírito achega e entrelaça

 

Ao mirar a fundo teu olhar sutil

Nossas almas se reconhecem

Os pensamentos se aquecem

Coração dispara, bate a mil

 

Te ouço falar meu nome

Incrédulo, desacredito

Teria mesmo dito?

Dos ouvidos matado a fome?

 

Muito tempo ainda irá passar

Regar a semente, ver surgir

Palavras amealhar, redarguir

Testemunhar ações, verificar

 

Por certo, poderemos pensar

Apaixonar, queimar, arder

Sem razão alguma nos conter

Estarmos livres para amar

 

E com estupenda força surge

Sentimento maior, abrangente

Que deixa sempre saliente

A linda face que a vida urge

 

Amor verdadeiro, correspondido

No olhar, no tocar, no sentir

De momentos tantos por vir

A dois, pra sempre, desmedido

sexta-feira, 8 de março de 2024

Gateada Tentação

 


Pela linha do tempo, que nunca se apresenta reta

O destino, teimoso e ladino, vem nos surpreender

Escrevendo sutis fatos, perdido num entardecer

Enriquecendo, marcando e deixando a alma completa

 

Por escolha, quis o destino, que se faça só

E só, os acontecimentos trazem seu regozijo

Pois bem como nos salientava em versos, Don Clavijo:

Na vida, melhor curandeiro dos tombos, é o próprio pó

 

Levantando da mangueira, pelo tendéu, faz esquecer

Esvoaçando da estrada, a constância faz repensar

Rebojando pelo galpão, o aconchego faz descansar

Repousando num corredor, a tropeada ajuda a engrandecer

 

E assim fez mais uma de suas surpresas buenaças

Desembarcando nas casas, pingo de fundamento

Daqueles que se dá valor, com todo consentimento

Pois Tentação é gateada, desenhada e das mais lindaças

 

Surpreende positivamente pela sua enorme mansidão

Apresenta temperamento tranquilo e calmo, genuíno

Daqueles que dificilmente se encontra num equino

E traz ainda uma estupenda e total vaqueira aptidão

 

Vem garbosa pra cancha, sai no brete bem à passo

Corre como poucos, procurando a rês e murchando orelha

Faz o serviço ficar mais fácil, e a cancha mais parelha

Vem repontando com graça e se ajeitando pro tiro do laço

 

Vez por outra, gaviona na invernada, faz parte da vida

Mas entrega a cabeça pro buçal, e vem cabresteando

Pois gosta do serviço, e sabe o que faz, campereando

Não se apavora, tem presteza e gosta da lida

 

Foi domada com total perícia e extrema delicadeza

Deixando pronta pro serviço, atendendo o comando

Obedecendo a perna e o freio, nunca refugando

Pra não precisar sentir, da roseta, a aspereza

 

Presteza, rusticidade, índole, temperamento

Esses são os pingos que definem, boa criação

Apresentam além de bom porte, garbo e função

Entregando ao mundo, animais de fundamento

 

Assim se procede em criatórios vitoriosos

Sempre apresentando animais prontos, de ponta

E há tempos, Augusto Pestana nos conta

Que a Cabanha Sede Velha, só larga vistosos

 

Na estiva, campo e lida terminam o apronte com calma

Empregando com paciência, no seu ritmo, rusticidade

Agregando valor ao que já vem pronto, pela tipicidade

Ficou bem lapidada, pingaço de campo e alma!

segunda-feira, 4 de março de 2024

Me emocionei



Era hora do mate, da calmaria, de sossegar o garrão. Guri estreava no rodeio, pela primeira vez indo e ficando dois dias ali, envolvido, envolto. Aprendendo, perguntando, tendo curiosidade sobre tudo. Bem normal, bem dentro do esperado. Além de ser esperto, é de uma índole e comportamento admiráveis. Achou logo um lugar diferente pra observar melhor tudo o que acontecia. Subiu no caminhão boiadeiro e sentou para ver tudo de cima, ampliar a visão. “aqui de cima dá pra ver mais longe e melhor”, disse ele. Não se sentiu confiante para laçar. Deixei à vontade. Quando quiser, que vá! Me juntei a ele no fim de tarde, depois de atirar umas armadas, experimentar a égua e sentir confiança no pingo, me restou tratar bem, banhar, oferecer água pra debelar o calor insuportável e alimentar a contento a parelha. Conversávamos, ali, em cima do caminhão, ele empolgado, me relatando os fatos vivenciados no dia, me perguntando as dúvidas que iam surgindo, e comentando sobre os acontecidos. Era hora da ave-maria do rodeio. Momento sempre ímpar, diga-se de passagem. Narrador mandou bem, extraindo emoção e deixando boas palavras para o público. Nesse momento, estávamos um tanto distantes, muito devido ao calor intenso. Ao prestar atenção nas palavras ditas ao microfone, me aproximo dele, abraço e beijo, como sempre, porém, devido ao momento em si, me emociono, me engasgo, lacrimejo. E pra minha surpresa, com ele ocorre o mesmo. Momento sutil, porém único e marcante. Como bem disse meu amigo Felipe de Freitas, a correria e os problemas do dia a dia são tantos, que nos esquecemos de visualizar e entender as bênçãos que temos diariamente. Parabéns Felipe! Sou fã do teu trabalho e tu é sabedor disso. Grande e forte abraço irmão! Me tocou em um momento importante pra mim. Por força de diversos fatores, nunca tinha tido a companhia do meu filho num rodeio. Tive nesse, e graças à Deus, foi tudo lindo. Foi tudo espetacular. Pra mim, foi uma daquelas memórias que jamais se apagarão. Como qualquer Pai, ver a empolgação do filho pelas atividades que amamos e trazemos arraigados em nosso ser é indescritível. É inebriante. Voltei pra casa com as melhores sensações possíveis. Meu coração ecoa gratidão e amor. Eu gosto de rodeio, há décadas. E não é só pelo laço, pois sou o tal do perna de pau na laçada, embora goste bastante de correr boi. É por toda atmosfera que se cria. Estar entre amigos, estar junto da família, conhecer e firmar parcerias, sempre com bom humor, ouvindo música, dando risadas, lidando com bóia e assado. Sai caro, mas é recompensador. Se bem que caro, é perder um filho pra outras tantas coisas que não prestam. Caro, é ter que lidar com doença, que além de esvaziar o bolso, seca a energia e vivacidade. Caro, é comprar remédio. Caro, é ter a vida esvaziada, sem sentido. O restante corremos atrás e damos jeito aos poucos. E vamos indo. Gratidão sincera a vida, aos nossos orixás e guias, por tudo que tem nos proporcionado, por tudo que tem nos brindado. Que continuemos a fazer por merecer essas bênçãos. Só nos faz bem. Só nos engrandece, só nos deixa cada dia mais gratos, felizes e completos. Vamos por mais! Sempre!

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024


E porque não seria um bom dia? Chuva é indício de renovação. Irriga o solo, emerge a planta, brota esperança. Sossega o corpo, aquieta o pensamento, aguça a mente. O "parar" nem sempre é parada. Pode ser somente uma leve pausa na correria para se dedicar ao planejar, preparar, aprender. Tornar a própria correria mais leve, mais produtiva, mais assertiva. Com uma visão dessas pela janela "do escritório", a sensação de esforço esvanece e deixa lugar para o regozijo. Enquanto se internalizam aprendizados e se conferem os feitos, a paz e a tranquilidade, aliada a beleza e naturalidade da cena acariciam a alma e massageiam o coração! Bom dia! Com bastante chuva, meus queridos!