Surra, espedaça, arrebenta e assola,
Esparrama os pedaços, mas deixa a cola
Por vezes, também nos zomba e nos cobra
São os desígnios do senhor tempo,
Trazendo no arrasto suas lembranças,
Que se esvoaçam junto as andanças
Andarilhando ao léu, junto ao vento
Umas muito boas, outras nem tanto
Rever os fatos e mirar adiante
Recobrar forças e seguir em frente
Ganhando afagos, pra seu conforto
Se entregar ao colo de sua gente
Amansar a alma, fazendo a vida
Não cansar do frenesi dessa corrida
Escrever sua história, somente
Se oculta a verdadeira beleza
Atrás do infame e real existir
E nesse jogo bruto do ir e vir
Edifica, despacito, sua fortaleza
Segue sendo mulher e linda
Continua atraindo olhares sérios
Ocultando encantos e mistérios
Em sua profundidade infinda
Seus olhos exalam doçura
Se protege em sua forjada casca
E nela, quase ninguém tasca
Embora a silhueta incite loucura
Tem seus medos, trabalha seus receios
Enfrenta suas angústias, trava sua luta
Não deixa impune uma salutar disputa
Consegue bem dominar seus anseios
O olhar entrega mais que se vê
Pra quem olhar de outra maneira
Enxerga ali, mulher companheira
Embora fomente e goste d’um auê
É nossa fuga inconsciente
Que permeia nossa existência
Nutre e espanta nossa carência
E nos queda, sempre paciente
Seu sorriso lindo contagia
Sua presença é sempre querida
Prenche os locais de vida
Perfuma o ambiente com alegria
É "solta das patas" com amigas
Mestra em curtir bons momentos
Séria em seus pensamentos
Suas atitudes, alguns intriga...
Trabalha sempre com afinco
Se empenha na lida, sem fricote
Prenda do tipo, de alma forte
Sem rudez, pinta unha e usa brinco
É uma gringa, com toda certeza
Traz fibra, tenacidade e altivez
É sua marca, e marca toda vez
Que os encontros se põem à mesa
Segue tranquila o caminho, mulheraço
Se a "esquina da vida" te estremece
É porque muita coisa boa ainda merece
E pra isso, a vida sempre deixa espaço!