sábado, 13 de junho de 2020

...caminho de ser...


Rogo aos céus, dia após dia, para que tenham, antes de mais nada, saúde e vida longa. Tendo isso, o restante, dá-se jeito. Se herdarão, por descendência de uma chucra dinastia, o mesmo amor e gosto pelo campo e pelos bichos, não tenho como saber. Dizem os mais experientes que os gostos passam de gerações em gerações através da prática e do convívio. Nisso me esmero. Tenho minhas limitações e tenho minhas falhas, entretanto, carrego esse amor nos olhos, no coração, e traduzo nos gestos e ações. O gosto de vocês trará um ar de continuidade, de seguimento adiante, não nego. Todavia, quero, mais que tudo, que sejam felizes e plenos pelas suas escolhas. Que as façam conforme suas convicções, seus gostos, suas crenças. O caminho, terão que trilhar por si. A nós cabe ensiná-los e prepara-los para que sigam em frente, caminhando, vencendo os percalços, contornando os obstáculos e levantando dos tombos e pealos que a vida nos dá. Em todos. E façam disso carga de vida, experiência. Transformem ensinamentos em sabedoria, e traduzam e extravasem essas pelas atitudes. Saibam discursar, sejam eloquentes e envolventes, porém jamais falem ou digam algo que não sabem e muito menos profiram palavras vazias, dessas que a prática rotineira não margeia e nem sustenta o próprio discurso. Enfim, como diz os versos do Juliano: “Entrego meu filho ao mundo para ser homem de bem!” Essa é a intenção. Esse é o norte. Filho e filha. Sejam de bem, sejam boas pessoas. Sejam gratos por tudo o que lhes é proporcionado, seja pelos outros ou por vocês mesmos. Como dizia o saudoso e sábio Baita: “A constituição devia ter apenas um artigo - todo homem deve ter vergonha na cara!” Essa observação vale para muito para nós. E quanto ao serem bom e de bem, têm berço para isso, tem ensinamento para isso. Graças ao bom Deus, vemos isso se materializando no dia a dia. A cada momento, a cada conversa, a cada olhar, a cada brincadeira. Quanto ao nativismo, ao ser terrunho, gostar dessa forma de vida, torno a dizer: Não sei. Não há obrigatoriedade. Tampouco pressão. Se gostarem, bem vindos. Se tiverem outros gostos, tudo bem, acompanharemos. Se, um dia tivermos juntos, cavalgando, laçando, paleteando, apartando, mateando, proseando mansamente ao redor do fogo, enquanto cozinhamos receitas herdadas e repassadas de forma oral, que seja por puro e feliz querer nosso. Meu, de vocês, de nós. Há sim, uma herança que pode ser levada adiante. Ser peão, ser patrão, servir. Se dispor e atuar. Querer ou não, é com vocês. A felicidade de vocês se traduzirá na nossa. Pais são assim. Importa mais ver felizes os filhos que a si mesmo. Eu, avós, tios e demais, estaremos amadrinhando a jornada. Não importa qual será. Por hora, seguimos adiante, conforme o arranjo de cada momento e de cada situação vai nos permitindo. Lhes amo de um jeito incomum, forte, intenso. Desse jeito que nossos olhares e sorrisos entendem muito melhor que a própria consciência permite.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Chove chuva

A chuva e seus mistérios. Desce do seu jeito, sem pedir licença, e vai encharcando tudo. Se apodera dos céus, apartando os sol das coxilhas. Vem encimando a paisagem, tingindo de gris o horizonte. Rega solenemente o solo, preenche as aguadas, refresca o vento. Purifica o ar, modifica os aromas. Lava os telhados e sarjetas, deixa sua marca nas vidraças. Toca a recolhida dos mansos, entoca os que podem. Banha os do campo e do mato. Desaloja os desavisados, faz saltar os desprovidos. Toca sua magia costumeira. Faz brotar do ventre da terra a semente lançada. Revigora as desvalidas e judiadas pela sua ausência. Tem o dom de fazer o verde e o chão sorrirem em forma de frutificação, brotação, rebrote. É a mais pura definição de bendição. Mexe não só com os líquens, com a seiva ou sangue. Remexe, retempera e revigora também os ânimos. Passam despercebidos nessas situações, mas acontece. Todos se modificam. Uns melhoram, outros nem tanto. Alguns se largam “à la cria”, outros se voltam para si. Muitos se fecham nos lares, alguns procuram a rua. É a natureza contribuindo para o reciclo dos tempos. São as características clichês das estações dando razão aos ditados e ditos criados pela humanidade ao longo dos tempos. “Outono só chove”. “Chuva de outono depois de verão seco é longa e demorada”. “Antes do inverno sempre chove até encher as aguadas, senão o frio não chega”. Pra ficar em apenas três formas de entendimento empírico. Fato é, que a chuva além de necessária, só faz bem. O barro, a molhança, as goteiras, a roupa suja e úmida, a parede escorrendo, a geladeira com o exterior em gotas, o chão liso com a umidade que s forma, são todas situações que existem para nos mostrar e lembrar de valorizar o que temos a cada instante. Os que reclamam de calor e ar seco, reclamam também da chuva e umidade. E aí meus queridos e queridas, querem o quê? Qual o contentamento? Só sol e dias amenos não existem. Simples assim. Bem vinda chuvas de fim de outono. Assim como são bem vindos os calores e o sol do fim da primavera. São os ciclos que se repetem e azedume humorístico algum vai fazer mudar. Conviver e entender isso, sim, vai fazer com que muita gente tenha dias melhores e mais agradáveis ao lado de quem seja! Chove, chuva, vivifica o verde, remoça as aguadas, afrouxa o chão, rabisca o céu, ensopa a baixada, embarra a coxilha. Invade o telhado, penetra na telha furada, escorre pelo beiral da janela e pela soleira da porta. Convida para um chá, um café, uma sopa, um ensopado. Cobertor, pipoca, bolo, chocolate, filme, seriado, documentário, livro. Fogo no fogão, na lareira, na churrasqueira. Vinho, whisky, fernet, malte, graspa, cachaça temperada. Casaco, bota, pala, poncho, capa, cachecol, manta, blusão, luva, toca, chapéu. Seja qual for o gosto e a pedida, tá valendo. Tem situações e vivências que só nestas condições são possíveis. Faz bem e não há o que fazer para deter. Contemplar, aceitar e se adaptar é o que de melhor fazemos. Simples assim.

domingo, 7 de junho de 2020

Pagamento

Pago com gosto
Com gosto e muito, mas muito sabor
Sabor e calor.
Calor da pele,
Pele queimando
Queimando e deixando arrepios
Arrepios e sede
Sede de mais calor
Mais calor para se perder
Se perder nos sentidos
Sentidos que não fazem
Não fazem mais sentido
Sentidos que se unem
Se unem e ludibriam a razão
Razão que se esvai
Se esvai entre os lençóis
Os lençóis que testemunham
Testemunham uma união
União que se estabelece
Estabelece pela entrega
Entrega que é recíproca
Recíproca que surge
Surge pela cumplicidade
Cumplicidade que é natural
Natural como eles
Eles desnudos, entregues
Entregues porque se querem
Se querem porque têm
Têm porque se doam
Se doam um pelo outro
Pelo outro se buscam
Se buscam e se encontram
Se encontram e se unem
Unem sempre e mais
E mais se querem
Se querem sem fim
E sem fim permanece
Permanece consistente
Consistente como raiz
Raiz que se eterniza
Se eterniza pela sustentação
Sustentação natural
Natural como eles
Eles que se querem
Se querem com voracidade
Voracidade que se traduz
Se traduz em desejos
Desejos insaciáveis
Insaciáveis são os dois
Os dois um pelo outro
O outro pelo um
Um quer e o outro também
Também faz acontecer
Acontecer é tudo
E tudo vira prazer
Prazer à dois
À dois é mais gostoso
Gostoso é pouco
Pouco é nada
E nada não aceitam
Aceitam somente muito
Muito proporcionam
Proporcionam tudo
E tudo satisfaz
Satisfaz por momentos
E momentos se alternam
Alternam e provocam
Provocam a sede
A sede do querer
E querer é o que querem
Querem sempre
Sempre mais
Mais de um
E mais do outro

sexta-feira, 5 de junho de 2020

O povo e suas vozes

As vozes do povo. As inúmeras e incontáveis falas que por décadas foram mudas pelos aparatos governamentais, que se sucederam por tempos, hoje estão ativas. Fortalecidas pela facilidade de exposição de opiniões e pensamentos. O aparato governamental tenta se fazer de surdo à elas. Não consegue por completo. Dentro desse próprio aparato, alguém se sensibiliza. Alguém se incomoda. Alguém “ouve”. Nada que faça com que o que se intenciona seja alcançado à pleno, pois no caminho as fuinhas e ratazanas, quando não destroçam, deformam “o queijo”. Foram ensinados ao longo dos tempos a agir assim. Hoje entendem ser de sua natureza e já não sentem vergonha alguma de seus pútridos atos. O pior disso é que nós não só permitimos como proporcionamos que essas fuinhas e ratazanas estejam e permaneçam lá, enfim... Consciência de cada um, de cada uma. Ou consequência da falta dela. Voltemos às vozes. As massas, como são compreendidas as grandes parcelas populacionais pela mídia, intelectuais e políticos, hoje se manifestam e geram “ecos”, embora fugazes na sua maioria. Esses “ecos” incomodam os “intocáveis” e inclassificáveis habitantes do panteão brasileiro. Alguns se deram conta e saíram na frente. Estão utilizando as mídias a seu favor. Ou ao menos tentando. Quem tem passado desabonador, dificilmente voltará a ter o nível de prestígio que contava. E são as próprias mídias que irão ou estão dificultando. Por mídia, entenda-se aquelas onde o povo se comunica, debate. Não as prontas, onde manipulam e “jogam” com os fatos e acontecimentos a fim de dar roupagem de acordo, buscando favorecimento de seus discursos, seja ele qual for. Essas vozes, com seus manifestos, estão expondo, criando, desnudando muitas coisas que não favorecem as práticas arraigadas das elites dominantes. E isso incomoda sobremaneira. Há um dito popularizado que comenta que, a perda de status e poder gera um pânico e uma dor tão intensa quanto a perda de um ente querido. Por isso se vê alguns detentores de altas posições tomarem algumas decisões e terem algumas ações ridículas. E serem hipócritas ao extremos ao tentarem justificá-las. Esse é o maior ganho e legado que as vozes possuem ao serem dotadas de som de maior alcance como agora. Doutrinarem “os agentes do povo” para o bem do povo e não o seu próprio bem. Embora concordemos todos que algumas vozes mereciam permanecer mudas. No entanto, vamos nos ater a saudar as que fazem bom uso do som. Essas sempre merecem reverência.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Assim!

Quem por taura se faz
Não afrouxa pra vida
Nem se nega da lida
Quando ela anda pra trás

Afirma bem “os braço”
Se estrivando nos bastos
Pra não roçar os pastos
Aguentando firme o tironaço

Não dobra o espinhaço
Nem perde a mirada
Defende a boleada
E sai dando simbronaço

Pra enfeitar o estouro
Empurra toda a ponta
Até perder “as conta”
De quem se mete a touro

O golpe seco tonteia
Deixam um xirú perdido
Não se dá por vencido
Quando o destino volteia

A vida vem de retovo
Atraca metendo “as pua”
Risca fundo a carne crua
E faz se aprumar de novo

Faz parte da caminhada
Remalhar “um ou dois tento”
Os outros firmam, dando alento
E garantem a retomada

E se a vida pede rudeza
Lhe atendo de imediato
Atiro no papel “uns fato”
E lhe ofereço nobreza

Minha natureza alçada
De andar solito no mundo
Me permite ser profundo
Sem opinião desperdiçada

Um destino que é só meu
Pelear “só com o toco”
Não arrefecer “de soco”
Tipo sorro, que o chumbo correu

É fato, nunca neguei
Errar faz parte de mim
E também acertei, sim
Pois até aqui cheguei

Se bem ou mal, não sei
Ainda tenho “graxa no rim”
E se Deus quiser assim
Refaço tudo o que passei

Decerto no mundo ando
Sempre de peito aberto
Fui ensinado a ser liberto
E cruzar cumprimentando

Isso gera muita malícia
E puxa também maldade
Essa gente da cidade
Se acha igual a polícia

Por redomão fiquei assim
Empurrando no osso do peito
O tempo, que vinha sujeito
Me apeiou na cidade jardim

Jamais corro desse tal
Nem descerro cancela
Me criei na Portela
E sou cria da capital

E se hoje a tradição é viva
Aprendi a lida campeira
Pisando numa mangueira
Encravada lá na Estiva

E de lá trago vivência
Que guardo desde guri
Pois na vida aprendi
A honrar a descendência

Chapéu, bombacha e bota
Poncho, guaiaca e pala
Espora e mango de tala
Boina e bainha canhota

De à cavalo sou um mais
Eternizando nosso pampa
Colorindo nossa estampa
Que não morrerá jamais

Pois hoje, basteriado e taludo
Miro adiante os herdeiros
Pilchaditos, gaúchos e faceiros
E sinto que ali, tenho tudo

O que mais hei de querer
Nessa tacanha jornada
Se me basta essa mirada
No meu sereno alvorecer

É a certeza do divino
Fazer muito por nós
A presença cala a voz
E entendo o destino

Vou partir um dia, bem sei
Irei feliz, manso e tranquilo
Se da vida tiver aquilo
Que com suor eu trancei

Ao ideal dar continuidade
Honra, coragem e respeito
Fé, lealdade, ser direito
Pra descansar na eternidade




terça-feira, 2 de junho de 2020

Os nossos

Texto escrito no ano de 2005, quando habitava o concreto na capital, e lutava pela adaptação, encaminhamento e sobrevivência em um ambiente que me surgia selvagem e hostil naquele momento. Por ser minha forma particular de pensar, segue atual, penso eu. Reproduzido aqui de acordo com o original, escrito à próprio punho à época. Boa leitura.


É... é no mínimo interessante observar e se chegar a conclusão de como nosso passado influi em nosso presente e nos ajuda a visualizar e mentalizar como queremos nosso futuro. Muitas vezes necessitamos, ou simplesmente acontece, relembrar o que de bom temos ao nosso redor, o porque hoje assim estamos, rever como estávamos e vislumbrar como queremos estar logo adiante. Gostosos convívios, amizades sinceras, relacionamentos verdadeiros, e, acima de tudo, família. Essa sim, elemento único na vida de um ser. Lugar onde aprendemos aquilo que somos, expoente de nós mesmos, espelho, razão, justiça, afago, moral, caráter, valores. Simplesmente, ninho! Ali somos feitos, ali somos educados, ali somos nós! Dali saímos para enfrentar o mundo, carregando tudo o que vivenciamos e aprendemos, cedo ou tarde. E são esses valores que estaremos passando adiante, demonstrando, mostrando, oferecendo. Quem planta bondade colhe ela mesma. Já quem planta avareza colhe, entre outras, rancor. Boas pessoas, é isso que queremos para nós, pois assim somos, ou, na pior das hipóteses, assim queremos ser. De nada adianta o convívio se dele não pudermos tirar bons proveitos, tanto seja a um ou a outro, pois é oferecendo ou dando que se recebe de volta. Se um dia não tiveres nada a ofertar à alguém, ofereça um sorriso, uma palavra, um olhar “olho-no-olho”, e receberá de volta, mesmo que não no mesmo instante, mas de outra, pois desde que o mundo é mundo a humanidade age assim. Se não souberes ser dessa forma, aprenda. Cabe a cada um a tarefa de fazer sua parte para que o mundo se torne melhor. Mas não deixe de fazer a sua, e lembre-se sempre qu assim como você, outros podem pensar da mesma forma. E se muitos deixarem sua parte de lado, mesmo que alguns a façam, não irá se completar nunca. Olhe a vida de frente, encare-a, mas tenha bom humor, não deixe que pequenas coisas o afetem. Se algo não aconteceu como você planejava, isso não quer dizer que deu errado, apenas que havia outra forma de se suceder. Lembre-se de quem você deixou torcendo por você mesmo. Já imaginou se esses trocarem de opção e passarem a “secar”? Tenha certeza de que tudo que se passa na vida vale à pena, por pior que seja a situação, desde que aprendamos com isso. E vale à pena porque temos alguém por quem viver. TEMOS FAMÍLIA!!!

segunda-feira, 1 de junho de 2020

É hora hermano

É hora hermano, encilha!
Tem mugido por toda a invernada
A novilhada vem encarreirada
E no entardecer a tropa se perfilha

Ringem os bastos na recolhida
Vem o gateado pedindo serviço
Sabe e entende do compromisso
No campo, uma volta, vale a vida

O pastiçal cortado de dente
Mostra o viço da perenidade
E a bênção da natural lealdade
De terra fecunda e seu ventre

E fica como maior legado
De quem tanto cuida do chão
Não perder a linda exatidão
Desse trabalho esforçado

Emparelhando a revisada
Com o cio à bate cola
Mexendo as anca, rebola
E vem ladeando, a colorada

Vem muy bem de estado
Mostrando folga de pasto
Quase não senta o basto
No lombo “envaletado”

A parelha segue o trilho
É a lida de campeiro
No passito caminheiro
Pra juntar boi e novilho

Se vai no fundo da invernada
Bombeando bem estrivado
Pra que nenhum alçado
Fique perdido na tropeada

E quando no anoitecer
Na hora em que a lua apareça
A tropa baixa a cabeça
Tenteando espichar o recolher

Tranqueiam para o cocho
Azulego, osco e brasino
Preto, vermelho e salino
Aspado, orelhudo e mocho

A “bóia” imita o ponteiro
O aramado faz a parede
Dos que de ração “tem sede”
No relinchar do culatreiro

O cupinzudo canela estendida
Quer refugar e negaceia
O pingaço, num upa, paleteia
Mostrando o rumo da subida

“Afrouxam a boca” no parador
Pra não apertar na porteira
Pois juntou a tropa inteira
Pra se tocar pelo corredor

E vão subindo, no movimento
Um por um, à todos reparando
Os assobios e gritos empurrando
Charlando com muito fundamento

Escarceiam os fletes, suados
Visualizam a fim da lida do dia
Se entregam sem nenhuma rebeldia
E retornam, sem ficar estafados

É linda a lida nessas grota
Pra quem aprecia essa veia
E quando um turuno se “esgueia”
Tem pingo pra trazer de volta!

Se finda o dia no galpão
Fogo, chaleira e mate
Se findou o bom combate
É hora de descansar o garrão