sexta-feira, 7 de julho de 2023

A Solingen do Meu Velho

Veio da barranca da fronteira

Na bainha de sola escurecida

Pra aquela rinha não ser esquecida

Onde apostador esvaziou a gibeira

 

De lá pra cá, na cintura amadrinhada

Ganhou retovo de fundamento

Anda com fio sempre a contento

Vistosa pela alpaca cravejada

 

Sangra o borrego, pela a vitela

Recolhe o caldo, faz o graveto

Bate o sal, aponta o espeto

Fatia a picanha, corta a costela

 

Atora o arame, faz uma descola

Fura o látego, desquina o tento

Ponteia o sovéu, assovia no vento

Num aperto, atora a vassoura da cola

 

Nas volteada, serve gente direita

Exemplou vagabundo e tareco

Dando estouro de fazer eco

Pra entender como se respeita

 

Na mão de quem entende

Não tem preço, mas tem valor

É artefato destinado ao labor

Daqueles que não se vende

 

É talhada pra qualquer serviço

Sangra, pendura e carneia

Pica, descarna e coureia

É aço de valer compromisso

 

Fatia com gosto um assado

No romper a fibra rosada

Pra tira gosto da peonada

Deixando na tábua, o caldeado

 

Pro “potchar” do pão sovado

Servir de aperitivo na espera

Enquanto a mesa ainda tapera

Espera leigo, mestre e togado

 

Quando se esvai o fio navalhado

Na carborundum logo se escora

Mandando grão, do miolo pra fora

Num upa, deixando o braço pelado

 

Dessas guazubira, não se vê mais

De bom gosto e acabamento fino

Cobiçada por “miles” de teatino

Anda na cintura, firme por demais

 

Vai amadrinhada na guaiaca

Contraponteando a fivela

Quieta, reluzente e bela

Expondo o garbo da alpaca

 

Na viajada, anda bem ladeada

Pelo preto véio embuchado

Que nunca fica desavisado

Sempre sujeito a uma assoviada

 

Dizem valer coleção de luxo

Com ares e formas de relíquia

Se ouve reverberação longínqua

É ferramenta de homem gaúcho!

 

Quebra o vinte, reluzindo o metal

Contraponteando o apero chato

Deixando muito gaúcho de fato

Exclamando: Que faca bagual!