Não aposte hermano! Não aposte! Jamais jogue alto no jogo da
vida. Se tem um conselho que posso dar e tem valor, é esse. Não meta o cavalo
no touro se não tiver os pés bem calçados no estrivo, e o cavalo não for
pechador. Se não tiver a certeza da carreira, não tope e não bote a parada. A
perda faz com que se amargue o gosto do mate. Levará dias e dias amargando. O
fel do sorver da bomba vem forte, e nada fará com que isso mude do dia pra
noite. Não são somas, não são bens. São sentimentos. O jogo da vida nos cobra
no ato. Nos toma alguns dos mais valiosos bens intangíveis que temos. Nosso
tempo e nosso sentimento. Nos deixa mascando o bridão de corrente, salivando a
tristeza, babando a espuma do desconsolo. O bocal bem atado faz o beiço sangrar com
o golpe, e a cicatriz custa a fechar. Seguiremos
troteando na volta, batendo a poeira da estrada com os cascos, pois é o que de melhor podemos
fazer. Porém, mais encruados, mais duros de queixo, mais duros de lombo, sem buscar amanunseio, sem afrouxar o cogote. A dor redomoneia, faz o
taura não querer mais arreio. Incha o lombo e cosqueia a costela. Quiçá aceitar
rabicho. O laçaço faz riscar o couro. Ficam as marcas para contar a história. E
somos exatamente isso. As marcas que trazemos, dos golpes que levamos. Como
buenos de alma, andamos manso, nos achegamos, emparelhamos e fazemos costado. Tipo
os bem costeados do bico, oferecemos mansidão, docilidade, servidão e lealdade.
Não serve, é muito simples, é muito fácil, é muito pouco. Adoram, dizem suas palavras.
Não gostam tanto, dizem seus atos. Enquanto falam com calor, agem despidos de amor.
Preferem e se vão a montar n’outros, mais vis de nuca, mais velhacos de lombo. Aqueles
que saem alvissareiros de início, e com o pesar da cavalgada, vendem os arreios
e derrubam sem dó. Preferem aqueles que o tombo já lhes machucou. Aqueles dos
quais querem cair novamente. Precisam, provavelmente. Para provar que sim. Ou
para provar que não. Não sabemos. Fato é, que os que assistem a teimosia em
remontar, entendem que pode ser o certo, pois sempre há nova chance. Calamitoso
ensinamento velado. Quem amparará depois? Quem conseguirá demover com palavras o que
os exemplos ensinaram? Derrubarão ou cairão? Mentes são mistérios indecifráveis
para a ciência, para a espiritualidade, para a humanidade. Animais agem por
instinto. Pessoas por que querem. Pela razão, pela emoção, pela insensatez,
pelo medo. Por um misto de tudo. Nunca saberemos. Na vida, há emoções que
precisam ser vividas. Há algumas que são incomparáveis, como o amor. Há outras
que são totalmente dispensáveis, como os dissabores do rompimento. Quando o
tirão arrebenta o laço, sobra dois pedaços, um inservível, outro encurtado. Na
vida, é similar. Sobra um pra cada lado, e necessitando se refazer os dois. Como
somos “mais nós”, nos iludimos achando que mudaremos a natureza de cada um, e
isso hermanos, não se muda. Quem é malo, por malo morre. Quem é bueno, por
bueno morre. Alguns driblam a natureza durante a vivência. Tentam esconder sua
essência, mas a vida não aceita por muito tempo. Sempre dá um jeito de desvelar
nossas verdades. A vida é simples. Nós é que complicamos. Apostamos contra a
vida. Nos perdemos dentro de nós mesmos. Nos enganamos sozinhos. Nos iludimos
por conta própria. Nessa aposta sempre perdemos. E o resultado é esse. Tombo. Golpe.
Laçaço. E vamos amealhando marcas na caminhada, para compor nossa existência.
Bom que, mesmo diante dos mais ardidos açoites, dos mais fortes tombos, não nos permitimos mudar nossa
natureza. Seguimos por buenos, pois por buenos nascemos e por buenos morreremos.
Simples assim!