sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Tigre de coração grande!


Muitos não sabem, muitos ignoram e muitos não percebiam. Mas nossa convivência sempre foi marcada por significados. Mais que qualquer outra titulação ou convenção, o Tigrão sempre foi um amigo sincero, leal e verdadeiro. Daí parte muito do que sempre digo, que somos abençoados por podermos aprender que os primeiros amigos se fazem dentro de casa. Era um incentivador e torcia pelo bem de todos em todos os aspectos. Muitas situações de aprendizado de vida que carrego comigo foram com ele que passei, foram com ele que aprendi. Dizer isso nesse momento pode parecer estranho e oportuno, mas guardo comigo preciosos ensinamentos. Dentre eles, o que destaco, pelo uso diário, é o de ter aprendido a “ler” uma pessoa pelas suas atitudes e não por seus discursos. Coisa que aprendi dele e do Baita (e acredito que pelo convívio deles)... É algo que me apropriei e fiz uma maneira de postura para o convívio em qualquer nicho ou segmento, seja ele social, profissional ou familiar. Afora algumas situações que marcam forte, como a primeira conta em banco, o encaminhamento do RG, a CNH aos dezoito anos, entre outras. Todas passagens com a sua presença, orientação e incentivo. A despeito de seu gênio difícil, tinha um coração enorme, onde habitava uma bondade imensurável! Jamais se negou a fazer algo por alguém. Jamais reclamou de ter que sair de seu conforto por um dos seus (Tá, ele resmungava um pouco, mas sempre ia). Tinha um senso de justiça apurado e sempre estava equilibrando as situações. Do seu jeito e com sua marca, ao longo dos anos nos ensinou que era possível ensinar pelo sim. Obviamente sabia dizer não como poucos, mas embora muitos pensem o contrário, o sim era algo presente em seu jeito de ser. E o seu sim ensinava porque sempre vinha junto de um pedido de maiores explicações, da perscrutação do motivo dos fatos e de uma inquisidora explicação do porquê daquele sim. Dentre suas frases rotineiras, a que mais eu lembro de ter escutado era a resmungada célebre: “É, vocês acham tudo fácil!” Sempre que escutava isso sabia que com ele estava tudo em ordem, tudo numa boa. A outra era a ironizada de boas-vindas: “Óóóó bicho! Resolveu aparecer é...” Hahahaha. Acho que ele já sabia que eu ia rir, por isso sempre a repetia. A última vez que pude conversar com ele, já convalescente, me surpreendi positivamente. Discutimos sobre alguns fatos que necessitavam uma tomada de decisão deles. Estávamos eu, ele e a vó. Eles sentados na área dos fundos e eu em pé do lado de baixo. Debatemos por um tempo sobre o assunto e não concluímos nada, pois a mim nem cabia conclusão alguma, estava ali somente para ponderar. Depois passamos a outros assuntos até que estava de saída. A Vó tinha entrado, me despedi dele e fiz menção de ir. Foi quando ele me chamou de volta e me agradeceu. Fiquei sem entender direito e perguntei de volta. “Obrigado pelo que Vô?” Eis a resposta: “- Por nos ajudar a pensar sério de novo!” E concluiu, após uma bela tragada no seu inseparável pito: “- Tu continua malandro, é sempre o mesmo. Não deixe que te mudem meu filho.” Pode ter plena, total e absoluta certeza vô. Mudamos rotinas e hábitos. Nossa natureza ninguém modifica! Aliás, ele sempre me classificou como malandro e eu não entendia o porquê, até que um dia resolvi o indagar e recebi a seguinte resposta: “Porquê malandro faz certo. E deixa todo mundo babando porque esperam dele o errado.” Ponto de vista interessante, não? Tigrão era uma figuraça!!!
Outra coisa que aprendi com ele foi que, enquanto é possível, devemos aproveitar a vida, conviver com os que nos fazem bem e volta e meia nos entregar aos prazeres. Afinal ninguém é de ferro. E uma festinha com gente querida sempre vai bem.
Quis o destino que saísse de cena em um dia de chuva, para que a água lavasse a alma e limpasse o pranto de quem fica. Fez a passagem cercado dos que o amavam e rodeado de boas lembranças. Ficamos nós com os ensinamentos e as lembranças ternas desse longo tempo de forte convívio. Obrigado Vô Ciro! Nosso carinho, nosso amor e nossa gratidão serão eternos!