Bastou um filme e um fato pra aquele nó na garganta voltar. Essas coisas que nos motram o quanto a vida é efêmera mexem tudo aqui dentro. Sabe quando um temporal chega de surpresa e as janelas estão abertas? Vendaval que bate as janelas, derruba os livros, espalha os papéis pelo chão. E então tu percebes que sim, as coisas podem mudar completamente a qualquer momento e em qualquer lugar, para qualquer pessoa, inclusive pra ti.
A efemeridade da vida é assim, feito vendaval, que de uma hora pra outra desarruma tudo, tira tudo do lugar, te leva coisas que tu achas que não poderias viver sem. A efemeridade da vida é a certeza da perda. Ou perdemos algo, ou alguém nos perde. Não, não... não comecei esse texto pensando em combinar frases mórbidas e doloridas. O start sim, foi esse. Um fato e um filme que falam disso: da perda, culpa da efemeridade da vida.
É que é nesses momentos que essa característica intrínseca a qualquer existência vem à tona. E então dá vontade de sair desesperadamente pela rua, cantando a música preferida, gritando para as pessoas importantes da sua vida que elas de fato são importantes, ir até o curso de dança mais próximo, matricular-se, para satisfazer aquele desejo que, até então, era só um desejo deixado de lado pelos compromissos e responsabilidades.
É isso que esse vendaval faz comigo. Me sacode e me faz enxergar o quanto estamos cegos à nós mesmos. O quanto deixamos de lado tantas coisas que gostaríamos de fazer, de dizer, de sentir. É esse vendaval que nos traz de volta ao sentido da vida e te abre os olhos para o único fim irremediável, e te enche de gás, te encoraja a fazer tudo que queres fazer antes que esse fim chegue.
Porque ele há de chegar, a qualquer momento. E quando isso ocorrer, não quero olhar para trás e perceber que carrego comigo frases de amor não ditas, abraços não dados, palavras caladas, desejos repreendidos. Talvez amanhã não consiga matricular-me no curso de dança que tanto quero, mas hoje, não passa de hoje, direi ‘eu te amo’ com todas as forças para o homem que fez meus olhos voltarem a brilhar. Ligarei para aquela minha amiga de infância que em um e-mail, lido às pressas em meio ao trabalho, me confessou sua tristeza e eu nada respondi, porque me perdi nas tarefas e me deixei esquecer.
Abraçarei com toda minha alma aquela alma irmã que encontrei na faculdade e que felizmente ainda está perto de mim. (Nos vemos quase todos os dias, mas há quantos não nos apertamos naquele abraço infinito?) Olharei para minha mãe e direi a ela o quanto ela tem razão nas coisas que diz, e passarei a escutar as verdades que ela me fala a cada novo dia e que eu ignoro, para depois descobrir que eram realmente verdades. (É, tava frio aquela noite em que eu não levei o casaco, mãe).
Ontem, ontem mesmo lia Álvaro de Campos (um presente que veio no diálogo com um amigo), e pensava nisso tudo... Em como há de se ter intensidade nas coisas que fazemos, nos segundos que vivemos, nos fragmentos que sentimos. Diz o poeta: “seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos,de ficar no chão...”. Há quanto tempo não te permites pular? Há quanto tempo a vida não roça teus ânimos, teus nervos, eriça teus pelos? Não, não pare para pensar nesse tempo. Viva o tempo que há, enquanto o vendaval não chegar.
o fato: a perda de um colega.
o filme: p.s: eu te amo.
Lidy
Te aprochega, senta com a gente, e entre um gole e outro faz o verbo sair. Vem beber palavras que transbordam em copos sempre meio cheios. Petiscos de ideias com sabor de reticências. Num eterno brinde à vida. tim-tim. Saludos da menina da fronteira, Lidy, e um forte abraço do poeta dos pampas, Marcelo.