quinta-feira, 31 de julho de 2008

Soy loco?

Eu tenho um amigo imaginário, sem rosto, sem corpo, sem expressão, sem ao menos nome, muito menos estilo ou forma.
É apenas uma forma que uso nas tantas horas de solidão que passo, para trocar uma idéia, dialogar, extravasar, esbravejar, formar opiniões, enfim, para aliviar um pouco a pressão do dia-a-dia. Pois sim, mesmo estando rodeado de pessoas, podemos estar sozinhos muitas vezes, com essa loucura em que se transformaram nossas rotinas.
E quando faço isso, ao mesmo tempo gesticulo, formo várias expressões faciais, e ainda volta e meia falo em voz alta e dou gostosas gargalhadas. Sei bem que sempre que isso acontece pareço louco, pois não foram uma nem duas vezes que eu mesmo fiquei surpreendido ao ver outros olhando pra mim incrédulos ou com ar de dúvida, como quem diz: “- Coitadinho, está delirando...”; ou pior: “ – Nossa! Mas bota louco nisso!”
Eu mesmo, quando realmente sozinho já me dei conta do quanto isso pode parecer esquisito, imagino quem não me conhece ou não está habituado a ver algo assim, não há como pensar diferente mesmo! Mas tranqüilizo a todos dizendo que não, não estou fora de meu juízo, embora ele nunca tenha sido perfeito, apenas uso isso por ser mais fácil de entender algumas coisas, assimilar outras, avaliar outras e assim vai, pois na falta de alguém com quem se possa viabilizar um diálogo, meu imaginário flui e passo a gesticular e conversar sem me dar conta da estranheza, hehehehe
Mas vá lá, vou me valer de um ditado antigo pra fazer minha defesa. Diz ele: “De criança, de médico e de louco, todo mundo tem um pouco!” No meu caso, é só um pouco mais acentuado um ou dois deles, certo? Obrigado! Até mais!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Não cabe em $$$$


Estava vindo para mais um dia de vida dura, quando o programa jornalístico que ouvia pelo rádio do celular (viva a midiatização!) voltou a falar da Lei Seca. (Que nem é Lei Seca, mas sim de Tolerância Zero. A mídia anda confundindo as bolas, quer dizer, as leis). Por um bom tempo não se falou em outra coisa, mas o rumo que a abordagem tomou é o que me incomoda de uma certa maneira.

Falou-se do grau de alcoolismo que pode ficar no sangue depois da ingestão de um bom-bom de licor (mania de jornalista de fazer “links” com a realidade e acabar com correlações excêntricas); falou-se do tempo que demora para que o bafômetro não detecte o álcool ingerido; falou-se sobre as estatísticas após a lei começar a vigorar; das artimanhas de bares e restaurantes para não perder a clientela; do aumento da renda dos táxis; e até charges divertidas foram criadas, como não poderia deixar de ser.

Eis que, parece que após quase esgotado o assunto, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulga os gastos com acidentes públicos nas rodovias brasileiras. Ao cavocarem abordagens para não perder a pauta, é a vez da imprensa unir a Lei com o “rombo” dos cofres públicos cada vez que uma equipe se dirige a socorrer um acidente. Gastos médicos, hospitalares, de perda de renda, remoção e recuperação de veículos, administrativos, judiciais e previdenciários: R$22 bilhões por ano.

Cifras e mais cifras, para reforçar que a diminuição dos acidentes é necessária “vejam os gastos que cada acidente causa!!”. (Ahh, agora sim, me convenci de que precisamos ter mais cuidado. Imagina??? Causar essa perda inestimável para o Governo, para a União? Imperdoável). E eu me pergunto: e a campanha já não vale pelos “gastos” incontáveis ao se perderem vidas? Gastos que não se pagam, não se contam, não se explicam, muitas vezes, não se curam. Essa, para mim, é uma justificativa que se basta. Qualquer outra me parece insensível, dispensável e pouco pertinente principalmente ao se falar dos cofres públicos que por motivos beeem menos importantes e mais inescrupulosos vêem sair cifras e mais cifras direto para a conta de pessoas-que-sabemos-quem.

Confesso, me agrediram todas aquelas informações. Ipea está no seu dever de buscar números e números. Mas ligar esses números a uma campanha anti-violência-no-trânsito, me doeu. Bilhões dispensados a cada triste acaso que pode ser por excesso de bebida, de precaução, de tristeza, de velocidade, de falta de juízo, culpa do destino, o que for. Mas danem-se os bilhões. Esses vão e voltam, um dia. Ou vão para onde não devem. Wathever. Já uma vida, várias vidas, essas são irrecuperáveis. E nem esses bilhões são capazes de pagar a tristeza de ver alguém que se ama partir. E só essa sensação basta para sabermos o que é certo e errado, para tomarmos cuidado, no trânsito ou em qualquer outro lugar em que o que esteja em risco é o que temos de mais valor: a vida, que é uma só e não cabe em cifras.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Sede de letras

Que coisa doida essa vontade. Vontade louca, sede de palavras. "Tu bebes?"
E lá vai ela cavocar nas entrelinhas do cotidiano, de dentro e de fora de si, um mote qualquer pra transformar em linhas, parágrafos, frase. Poderia falar do sentido de amizades verdadeiras, depois de um reencontro feliz, de mensagens honestas e sensíveis, de amigas que não se vêem, mas se sentem.

Poderia falar dessa força do sentir, que rompe barreiras de distância, de tempo, de coisas quaisquer, quando é verdadeiramente real dentro de alguéns. Poderia falar, por outro lado, da saudade. Da distância entre almas que se aproximam no subjetivo, nas sensações, mas que a distância real deixa quilômetros de tristeza nos olhares que não se encontram mais.

Poderia falar do destino, que cruzou caminhos e que agora os faz distantes. Que a fez feliz quando colocou pérolas na sua vida, mas foi impiedoso ao afastá-las quando parecia haver ainda tanto por viver. Pode, ainda, falar disso, disso que ainda há, desse amanhã que há de reservar esses reencontros, ou outras surpresas felizes. Ela é otimista, e crê na possibilidade de ter por perto os sorrisos que outrora coloriam seus dias. Aliás, esse otimismo a faz crer em tantas coisas...

Poderia, quem sabe, discorrer sobre isso... sobre esse jeito leve, ainda que não descompromissado, de levar adiante os compromissos, as tarefas, as coisas menos e mais prazerosas da vida. Não há nuvem cinza que a impeça de enxergar detalhes que fazem de cada segundo, um instante especial. Não há mágoa momentânea que lhe impeça de sorrir, numa alegria que sempre dura mais que o tempo que uma lágrima leva para molhar o rosto por tristeza. Não há tempo para elas... para as tais tristezas. Porque ela acha que o tempo de vida é precioso demais para passar triste, para virar um passado que se quer esquecer.

Antes do esquecimento, quem sabe tudo isso vire uma poesia, já que a sede, insaciável, persiste mesmo depois do rascunho de um texto despretensioso, que saiu da vontade de escrever sobre o que escrever. Um soneto, uma ode, prosa poética qualquer... quartetos e tercetos que vão ficar pra depois.