segunda-feira, 11 de junho de 2018

De ont'ontem pra hoje!

Por guri teatino, sem paradeiro ou andor
Cruzava de um lado ao outro, andava maroteando os troco
Tragueava largo os pito, as preparada e os copo
Sem enleio dava de mão nas percanta e fazia graçejos de soco
Ocupava os pelego a cada pouco, com a de uma e a de outro
Sem se importar com a amanhã, muito menos mais adiante
Vivia entre o dia e a noite, por ser guapo e também errante
Não era Martín Fierro, muito menos Dom Blanco
Mas tinha guardado esses modelos, de gaúcho franco
Pra um dia fazer cessar a conversa e a boataria
E por ser bueno e não malo, recolheu a prataria
Boleou a perna e bateu na anca, com a mala na garupa
Apeou em outra estância, pra seguir firme a labuta
Feito o carreto, não deu parelha e não se fez de rogado
Seguiu adiante, pediu guarida, balanceou o realizado
Não deu volta, firmou o tutano e sustentou o tirão
Seguiu dando seu jeito, ajujando o mate firmou o garrão
E quando a vida, por maleva, arrebentava um tento
Se sustentava na fé, sem resmungo ou lamento
Com perícia e jeito, emendava e refazia a trança
Já no entardecer, mateando, e vendo não ser mais criança
Se acalantou e envolveu nos braços a última prenda
Partiu de novo, seguindo a andarilha senda
Embora o rumor e atropelo tenham sido forte
O peito aos poucos desfazia a tapera e garrava o norte
Era o sentido da vida dando ô de casa
O coração preenchido indicava o rumo da estrada
Numa terrunha emoção, de índio aquerenciado que fica
Recebeu dos céus, pro homem, a bênção mais rica
E quando um dia, mantendo o sinuelo que a vida deu
Dando à volta ao pago, ao rancho e aos seus
Compreendeu que não ser santo não é obrigação e nem sina
Entendeu, remoendo o pensamento, entordilhando a própria crina
Que quando calçou a vincha nova de couro cru
Naquele velho e batido sombrero negro
Tinha atado compromisso sem medo, de ser gaúcho de fato
De ser gaúcho, por inteiro, cumprindo o destino nato
De quem nasceu pra ser macho, de quem nasceu pra ser xirú!

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