quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Tirão de apostas

Não aposte hermano! Não aposte! Jamais jogue alto no jogo da vida. Se tem um conselho que posso dar e tem valor, é esse. Não meta o cavalo no touro se não tiver os pés bem calçados no estrivo, e o cavalo não for pechador. Se não tiver a certeza da carreira, não tope e não bote a parada. A perda faz com que se amargue o gosto do mate. Levará dias e dias amargando. O fel do sorver da bomba vem forte, e nada fará com que isso mude do dia pra noite. Não são somas, não são bens. São sentimentos. O jogo da vida nos cobra no ato. Nos toma alguns dos mais valiosos bens intangíveis que temos. Nosso tempo e nosso sentimento. Nos deixa mascando o bridão de corrente, salivando a tristeza, babando a espuma do desconsolo. O bocal bem atado faz o beiço sangrar com o golpe, e a cicatriz custa a fechar.  Seguiremos troteando na volta, batendo a poeira da estrada com os cascos, pois é o que de melhor podemos fazer. Porém, mais encruados, mais duros de queixo, mais duros de lombo, sem buscar amanunseio, sem afrouxar o cogote. A dor redomoneia, faz o taura não querer mais arreio. Incha o lombo e cosqueia a costela. Quiçá aceitar rabicho. O laçaço faz riscar o couro. Ficam as marcas para contar a história. E somos exatamente isso. As marcas que trazemos, dos golpes que levamos. Como buenos de alma, andamos manso, nos achegamos, emparelhamos e fazemos costado. Tipo os bem costeados do bico, oferecemos mansidão, docilidade, servidão e lealdade. Não serve, é muito simples, é muito fácil, é muito pouco. Adoram, dizem suas palavras. Não gostam tanto, dizem seus atos. Enquanto falam com calor, agem despidos de amor. Preferem e se vão a montar n’outros, mais vis de nuca, mais velhacos de lombo. Aqueles que saem alvissareiros de início, e com o pesar da cavalgada, vendem os arreios e derrubam sem dó. Preferem aqueles que o tombo já lhes machucou. Aqueles dos quais querem cair novamente. Precisam, provavelmente. Para provar que sim. Ou para provar que não. Não sabemos. Fato é, que os que assistem a teimosia em remontar, entendem que pode ser o certo, pois sempre há nova chance. Calamitoso ensinamento velado. Quem amparará depois? Quem conseguirá demover com palavras o que os exemplos ensinaram? Derrubarão ou cairão? Mentes são mistérios indecifráveis para a ciência, para a espiritualidade, para a humanidade. Animais agem por instinto. Pessoas por que querem. Pela razão, pela emoção, pela insensatez, pelo medo. Por um misto de tudo. Nunca saberemos. Na vida, há emoções que precisam ser vividas. Há algumas que são incomparáveis, como o amor. Há outras que são totalmente dispensáveis, como os dissabores do rompimento. Quando o tirão arrebenta o laço, sobra dois pedaços, um inservível, outro encurtado. Na vida, é similar. Sobra um pra cada lado, e necessitando se refazer os dois. Como somos “mais nós”, nos iludimos achando que mudaremos a natureza de cada um, e isso hermanos, não se muda. Quem é malo, por malo morre. Quem é bueno, por bueno morre. Alguns driblam a natureza durante a vivência. Tentam esconder sua essência, mas a vida não aceita por muito tempo. Sempre dá um jeito de desvelar nossas verdades. A vida é simples. Nós é que complicamos. Apostamos contra a vida. Nos perdemos dentro de nós mesmos. Nos enganamos sozinhos. Nos iludimos por conta própria. Nessa aposta sempre perdemos. E o resultado é esse. Tombo. Golpe. Laçaço. E vamos amealhando marcas na caminhada, para compor nossa existência. Bom que, mesmo diante dos mais ardidos açoites, dos mais fortes tombos, não nos permitimos mudar nossa natureza. Seguimos por buenos, pois por buenos nascemos e por buenos morreremos. Simples assim!  

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