domingo, 30 de junho de 2019

Assim, pelo silêncio, se ensina e se aprende

A chuva bate no telhado e cobre de silêncio fugidio a alma do campo. Se recolhem as aves e cessam seu canto. Aquietam-se os latidos e esmorecem os mugidos. A noite se faz longa e silente, num profundo respeito à natureza e seus elementais. É a alma do campo que se recobre com o tecido fino da manga d’água, lavando suas cargas e despejando suas energias sobre a terra, para que tudo vigore e brote. São suas forças ocultas que sobre o silêncio campesino agem de forma velada, recobrando cada palmo dilacerado pela existência, possibilitando novamente seu uso. São as bênçãos divinas se fazendo presentes para que possamos ver e sentir essa ação natural. Nos possibilita, se necessário, o uso dos cinco sentidos para a percepção do sagrado. Molha, tem odor e gosto característico, faz barulho e resfria em qualquer estação. Nesse silêncio retumbante, onde todos se recolhem e se aninham, há almas que se procuram. Buscam no brilho do outro seu aconchego, sua afabilidade. Nem sempre encontram. Mas não desistem, pois assim como a chuva, que vem e paira mansamente no ar, a busca precisa ser ininterrupta. É desse perseverar que vem a vitória. É da persistência na luta que se alcança a glória. No calor da batalha aflora o melhor que há no interior de cada um. Batalhas e lutas silenciosas tem o poder de nos permitir buscar nossa força adormecida e exteriorizar pelos gestos e atitudes o que somos. Quando aprendido, verbalizamos os atos e desfrutamos das benesses. Sem luta hermano, nada vale. O que vem fácil, vai fácil. Na dor o aprendizado é pra sempre. No amor também, porém temos a triste imperfeição social de não nos permitir aprender sempre pelo amor. Acabamos por achar errado, desconfiar, não ter o entendimento completo desse aprendizado. E na dor não há dúvidas. Marca e pronto. Assim como a chuva, as lágrimas que escorrem agem com poder, levando junto consigo as dúvidas do não aprendizado. Ele fica ali! Por mais adormecido que esteja, está ali! E os elementais, por saberem do quão poderosa é a água, venha de onde vier, deixam que escorra e cumpra sua função de assepsia emocional, natural, mental e espiritual. Se somos basicamente água, nada mais simples e natural que dela e por ela vivamos. Nos falta saber zelar. Enquanto não aprendemos (a dor vai nos ensinar), nos empenhamos em dar continuidade ao aprendizado do dia a dia. Se pudermos optar, será pelo amor. Caso não dê certo, já sabemos, a dor cumpre seu papel. No silêncio natural do eterno, que se faz presente pela ação da chuva nos campos, limitando as ações de tudo que é vivo, ela age silenciosa e eficazmente. E ficamos como expectadores, tentando vislumbrar os desfechos que nos rodeiam, embora saibamos que não há como prever nada. É deixar acontecer. Simples vida!

1 comentários:

Rose Müller disse...

👏👏👏👏😘