sábado, 16 de maio de 2009

p.s: não se esqueça de viver

Bastou um filme e um fato pra aquele nó na garganta voltar. Essas coisas que nos motram o quanto a vida é efêmera mexem tudo aqui dentro. Sabe quando um temporal chega de surpresa e as janelas estão abertas? Vendaval que bate as janelas, derruba os livros, espalha os papéis pelo chão.  E então tu percebes que sim, as coisas podem mudar completamente a qualquer momento e em qualquer lugar, para qualquer pessoa, inclusive pra ti. 


A efemeridade da vida é assim, feito vendaval, que de uma hora pra outra desarruma tudo, tira tudo do lugar, te leva coisas que tu achas que não poderias viver sem. A efemeridade da vida é a certeza da perda. Ou perdemos algo, ou alguém nos perde. Não, não... não comecei esse texto pensando em combinar frases mórbidas e doloridas. O start sim, foi esse. Um fato e um filme que falam disso: da perda, culpa da efemeridade da vida. 


É que é nesses momentos que essa característica intrínseca a qualquer existência vem à tona. E então dá vontade de sair desesperadamente pela rua, cantando a música preferida, gritando para as pessoas importantes da sua vida que elas de fato são importantes, ir até o curso de dança mais próximo, matricular-se, para satisfazer aquele desejo que, até então, era só um desejo deixado de lado pelos compromissos e responsabilidades. 


É isso que esse vendaval faz comigo. Me sacode e me faz enxergar o quanto estamos cegos à nós mesmos. O quanto deixamos de lado tantas coisas que gostaríamos de fazer, de dizer, de sentir. É esse vendaval que nos traz de volta ao sentido da vida e te abre os olhos para o único fim irremediável, e te enche de gás, te encoraja a fazer tudo que queres fazer antes que esse fim chegue. 


Porque ele há de chegar, a qualquer momento. E quando isso ocorrer, não quero olhar para trás e perceber que carrego comigo frases de amor não ditas, abraços não dados, palavras caladas, desejos repreendidos. Talvez amanhã não consiga matricular-me no curso de dança que tanto quero, mas hoje, não passa de hoje, direi  ‘eu te amo’ com todas as forças para o homem que fez meus olhos voltarem a brilhar. Ligarei para aquela minha amiga de infância que em um e-mail, lido às pressas em meio ao trabalho, me confessou sua tristeza e eu nada respondi, porque me perdi nas tarefas e me deixei esquecer. 


Abraçarei com toda minha alma aquela alma irmã que encontrei na faculdade e que felizmente ainda está perto de mim. (Nos vemos quase todos os dias, mas há quantos não nos apertamos naquele abraço infinito?) Olharei para minha mãe e direi a ela o quanto ela tem razão nas coisas que diz,  e passarei a escutar as verdades que ela me fala a cada novo dia e que eu ignoro, para depois descobrir que eram realmente verdades. (É, tava frio aquela noite em que eu não levei o casaco, mãe). 


Ontem, ontem mesmo lia Álvaro de Campos (um presente que veio no diálogo com um amigo), e pensava nisso tudo... Em como há de se ter intensidade nas coisas que fazemos, nos segundos que vivemos, nos fragmentos que sentimos. Diz o poeta: “seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, a dar vontade de dar pulos,de ficar no chão...”. Há quanto tempo não te permites pular? Há quanto tempo a vida não roça teus ânimos, teus nervos, eriça teus pelos? Não, não pare para pensar nesse tempo. Viva o tempo que há, enquanto o vendaval não chegar.  


o fato: a perda de um colega.

o filme: p.s: eu te amo.

Lidy

2 comentários:

Clarissa disse...

vem me dar o abraço prometidooo
hehehe
mesmo estando perto, também coleciono mil saudades de ti. amo tu demais.

Marcelo disse...

Sim! Abraçar, olhar nos olhos, dar um beijo fraterno, coisas que devem ser exercitadas no dia a dia e não apenas fazer parte de textos, fotos e molduras. Assim como amar!
Beijos queridíssima!!!