terça-feira, 19 de março de 2019

O pouco de cada um, se faz muito por todos

O pouco de cada, um se faz muito por todos
Há um momento da vida que nos toma conta a sensação de que estão nos tirando a possibilidade de convívio daqueles com os quais nos acostumamos. Por vezes pode não parecer intenso e nem importante esse convívio, mas cada pequeno momento, cada palavra trocada, cada gesto, cada olhar e trejeito tinha significado. E a totalidade destes momentos se traduzem em aprendizado. De caminhada. De estrada. De vida. E assim estes que estão indo, sem saber, contribuíram para a nossa formação de caráter, de personalidade, de indivíduos sociais. Fizeram por nós o mesmo que entes queridos e familiares faziam e fazem. Há mais tempo nos deixaram sem o “Tio” Alsério, sem o “Schepa”, depois levaram o “Dorço”, o “seu” Osmar, o “seu” Juarez, o “Tio” Valdemar, o Vermelho, o Beto, o César, o “seu” Antoninho, entre outros. Esses caras se fizeram importantes pra nossa existência. Como andávamos sempre “em bando”, éramos acolhidos e festejados pelos pais e mães da “gurizada”. Nos acolheram em suas casas, em suas famílias, em suas vidas. Nos davam atenção, cuidado e afeto. Deixam conosco uma carga de ensinamento grande e valiosa. Seu legado. Legado é algo que fica nas entrelinhas do convívio. Um misto de comportamento e conversa, de ação e diálogo. Bem imaterial dos mais valiosos que se possa conhecer. Obviamente não faziam nada sozinhos, pois eram todos bem casados e as patroas davam conta do recado com habilidade e sabedoria (as “tias”. Que até hoje querem saber se estamos bem e se importam em nos dar um abraço afetuoso!). Porém, pra nós, homens, o convívio com os mais velhos se faz salutar e é bem-vindo. A forma de repassar sabedoria e ensinar valores é através do convívio e da sua leitura sem cortes e nem apartes. E é nisso que “pega” o sentimento de falta. Só que não adianta, por pior que seja, somente ficar a prantear a partida. É necessário ir adiante, suplantar a dor e se esforçar para manter vivo o aprendizado, senão de nada valerá. Logo ali em cima, estão todos, junto com os nossos que também já foram, a nos olhar, a nos cuidar, a nos “ladear” durante a caminhada. Não se trata de minimizar a perda ou fazer pouco do momento, e sim de entender o quão grande e belo é o ensinamento que nos deixam. O quão lindo e importante foram para nós esses convívios, e a larga dose de altruísmo que se necessita para ter essa compreensão. E não é nada fácil. E dói. E machuca. Em contrapartida, faz crescer, faz com que procuremos o melhor de cada um e passemos a praticar. Pra mim em especial, que sempre tive um olhar diferenciado no convívio, tentando buscar o entendimento do porquê, do como, um amigo ou amiga era de tal jeito através da observação e conversa com seus pais, essas partidas me atingem e me ferem. Fico com um vazio no peito até entender que nos passaram o que puderam, e que daqui por diante é conosco e com os que ficam. Jamais teria a intenção e a pretensão de me colocar ao mesmo nível de filhos, filhas e familiares. Apenas partilho do sentimento de perda e fico dolorido por saber que não os teremos mais aqui. E entendo isso melhor por já ter vivido na pele a perda de tios, tias, padrinho e madrinha, avó e avôs. Não foi e não é fácil. Me agarro na fé e vou adiante. Bem como me ensinaram minha Vó Celina, meu Vô Otacílio e minha tia Rosa, assim como meu saudoso Tio Orlando, que já partiram e deixaram grandes aprendizados, vasta sabedoria e cargas generosas desses ensinamentos, para que fossem seguidos e praticados. Neste ponto, além de nós mesmos, temos filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas, afilhados e afilhadas para passarmos adiante, mantendo vivo o legado. São os ciclos da vida. Assim, resignados e conscientes de que isso não se muda, que não há o que fazer diante dos ciclos terrenos, pois eles se encerrarão para todos nós, e somos impotentes neste ponto, seguimos adiante. Com fé! Encerro com um ditado que todos sempre nos mostraram na prática como deve ser: “Ensina o piá o caminho que deve cruzar, que quando for “nego véio” não vai se extraviar!” Luz, paz e sabedoria à todos! Beijos e abraços!

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