quarta-feira, 10 de junho de 2020

Chove chuva

A chuva e seus mistérios. Desce do seu jeito, sem pedir licença, e vai encharcando tudo. Se apodera dos céus, apartando os sol das coxilhas. Vem encimando a paisagem, tingindo de gris o horizonte. Rega solenemente o solo, preenche as aguadas, refresca o vento. Purifica o ar, modifica os aromas. Lava os telhados e sarjetas, deixa sua marca nas vidraças. Toca a recolhida dos mansos, entoca os que podem. Banha os do campo e do mato. Desaloja os desavisados, faz saltar os desprovidos. Toca sua magia costumeira. Faz brotar do ventre da terra a semente lançada. Revigora as desvalidas e judiadas pela sua ausência. Tem o dom de fazer o verde e o chão sorrirem em forma de frutificação, brotação, rebrote. É a mais pura definição de bendição. Mexe não só com os líquens, com a seiva ou sangue. Remexe, retempera e revigora também os ânimos. Passam despercebidos nessas situações, mas acontece. Todos se modificam. Uns melhoram, outros nem tanto. Alguns se largam “à la cria”, outros se voltam para si. Muitos se fecham nos lares, alguns procuram a rua. É a natureza contribuindo para o reciclo dos tempos. São as características clichês das estações dando razão aos ditados e ditos criados pela humanidade ao longo dos tempos. “Outono só chove”. “Chuva de outono depois de verão seco é longa e demorada”. “Antes do inverno sempre chove até encher as aguadas, senão o frio não chega”. Pra ficar em apenas três formas de entendimento empírico. Fato é, que a chuva além de necessária, só faz bem. O barro, a molhança, as goteiras, a roupa suja e úmida, a parede escorrendo, a geladeira com o exterior em gotas, o chão liso com a umidade que s forma, são todas situações que existem para nos mostrar e lembrar de valorizar o que temos a cada instante. Os que reclamam de calor e ar seco, reclamam também da chuva e umidade. E aí meus queridos e queridas, querem o quê? Qual o contentamento? Só sol e dias amenos não existem. Simples assim. Bem vinda chuvas de fim de outono. Assim como são bem vindos os calores e o sol do fim da primavera. São os ciclos que se repetem e azedume humorístico algum vai fazer mudar. Conviver e entender isso, sim, vai fazer com que muita gente tenha dias melhores e mais agradáveis ao lado de quem seja! Chove, chuva, vivifica o verde, remoça as aguadas, afrouxa o chão, rabisca o céu, ensopa a baixada, embarra a coxilha. Invade o telhado, penetra na telha furada, escorre pelo beiral da janela e pela soleira da porta. Convida para um chá, um café, uma sopa, um ensopado. Cobertor, pipoca, bolo, chocolate, filme, seriado, documentário, livro. Fogo no fogão, na lareira, na churrasqueira. Vinho, whisky, fernet, malte, graspa, cachaça temperada. Casaco, bota, pala, poncho, capa, cachecol, manta, blusão, luva, toca, chapéu. Seja qual for o gosto e a pedida, tá valendo. Tem situações e vivências que só nestas condições são possíveis. Faz bem e não há o que fazer para deter. Contemplar, aceitar e se adaptar é o que de melhor fazemos. Simples assim.

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