segunda-feira, 1 de junho de 2020

É hora hermano

É hora hermano, encilha!
Tem mugido por toda a invernada
A novilhada vem encarreirada
E no entardecer a tropa se perfilha

Ringem os bastos na recolhida
Vem o gateado pedindo serviço
Sabe e entende do compromisso
No campo, uma volta, vale a vida

O pastiçal cortado de dente
Mostra o viço da perenidade
E a bênção da natural lealdade
De terra fecunda e seu ventre

E fica como maior legado
De quem tanto cuida do chão
Não perder a linda exatidão
Desse trabalho esforçado

Emparelhando a revisada
Com o cio à bate cola
Mexendo as anca, rebola
E vem ladeando, a colorada

Vem muy bem de estado
Mostrando folga de pasto
Quase não senta o basto
No lombo “envaletado”

A parelha segue o trilho
É a lida de campeiro
No passito caminheiro
Pra juntar boi e novilho

Se vai no fundo da invernada
Bombeando bem estrivado
Pra que nenhum alçado
Fique perdido na tropeada

E quando no anoitecer
Na hora em que a lua apareça
A tropa baixa a cabeça
Tenteando espichar o recolher

Tranqueiam para o cocho
Azulego, osco e brasino
Preto, vermelho e salino
Aspado, orelhudo e mocho

A “bóia” imita o ponteiro
O aramado faz a parede
Dos que de ração “tem sede”
No relinchar do culatreiro

O cupinzudo canela estendida
Quer refugar e negaceia
O pingaço, num upa, paleteia
Mostrando o rumo da subida

“Afrouxam a boca” no parador
Pra não apertar na porteira
Pois juntou a tropa inteira
Pra se tocar pelo corredor

E vão subindo, no movimento
Um por um, à todos reparando
Os assobios e gritos empurrando
Charlando com muito fundamento

Escarceiam os fletes, suados
Visualizam a fim da lida do dia
Se entregam sem nenhuma rebeldia
E retornam, sem ficar estafados

É linda a lida nessas grota
Pra quem aprecia essa veia
E quando um turuno se “esgueia”
Tem pingo pra trazer de volta!

Se finda o dia no galpão
Fogo, chaleira e mate
Se findou o bom combate
É hora de descansar o garrão

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