quinta-feira, 30 de abril de 2020

Arre...medo

Necessitamos de tão pouco para viver e ser feliz. Já se deram conta disso? Marcas, status, somas vultuosas, economias e tudo o mais não mantém a vida de ninguém. Quando chega a hora, tudo fica. Aprendemos errado há tempos. E quando digo há tempos, me refiro à séculos. Somos reféns da ignorância tecida pelo medo, que por sua vez foi e é a maior e melhor forma de controle que nossa senil sociedade mundial criou e adaptou. Muito bem, inclusive. Por medo, não saímos. Por medo, não vamos. Por medo, não fizemos. Por medo, deixamos. Por medo, engolimos. Por medo, conduzimos. E o contrário também acontece. Por medo, saímos. Por medo, vamos. Por medo, fizemos. Por medo, não deixamos. Por medo, não engolimos. Por medo, não conduzimos. Tudo. Vida pessoal, vida amorosa, vida profissional, vida social. É tão imperante e arraigado em nosso meio que nem nos damos conta do quão ativo se faz no dia a dia e nas rotinas. De todos, sem exceções. Muitos irão dizer que não possuem medo, que enfrentam, que passam por cima, que transcendem, que suplantam. E eu concordo plenamente. Tenho total certeza que sim. Que assim o fazem. Alguns no dia a dia, outros esporadicamente, outros vez em quando. Porém amigos, os convido para refletirmos nesse ponto. Se assim o fazemos, é por que ele está ali, conosco. Ou não? É dose, eu sei. Refleti e analisei muitos ângulos e pontos de vista para admitir que vivemos dessa forma. Não há culpados ou inocentes nisso. Nem vítimas e acusadores. Somos apenas a sucessão do ciclo que nossa raça iniciou lá nos confins do tempo. Onde, dada a escassez de informações disseminadas, e o baixo grau de evolução que tínhamos, esse medo constituiu poder a alguns. Mas isso é assunto para quem entende se aprofundar. Antropólogos(as), psicólogos(as), filósofos(as), historiadores(as) e quem mais se interessa. Eu apenas leio alguns materiais sobre o assunto, debato e converso com alguns entendidos e formo minha opinião pela vivência que tenho até o momento. E críticas, complementos, e demais opiniões são bem vindas. Sempre feitas com polidez. Minha forma de “se livrar” desse enclaustro castrador é através do exercício da fé. Rezar, orar, buscar conexão com o astral. Não diria que elimina por completo o medo, mas nos faz viver de forma bem mais leve, mais completa e inteira. Nos traz à luz da plenitude dos pequenos gestos, dos momentos simples, das situações vistas como mais banais e corriqueiras, nos encherem o coração e a alma. Um bom dia com sorriso, um raiar do sol, um entardecer modorrento, um muito obrigado olhando nos olhos, comida na mesa, teto sobre a cabeça, saúde, tarefas a cumprir. Magia do dia a dia transcorrendo em nossos olhos. E sim, é preciso querer ver um pouco além do que o olho enxerga. Vale muito à pena! Muda o colorido da existência. Muda o prisma da vida! E claro, para exercer essa fé real, é necessário constância, consistência, vontade! Como tudo que é bom e transforma, não é nada fácil, mas... Retorna e compensa cada segundo dedicado. Faça do seu jeito, com a sua crença, se aprimore, vá além. Todos convidados. Apenas me detenho a ressalvar que jamais teria a pretensão de dizer ou afirmar que deixaremos de sentir ou conviver com o medo. Longe disso. Até porque o medo é um grande educador e um sábio professor. O que digo sem medo (!!!) é que a fé nos auxilia e nos permite viver sem as amarras do medo. Nos traz uma compreensão mais ampla e um entendimento da mecânica e dinâmica da vida diferente da que vemos e vivemos enquanto apenas “credores” ou “descrentes” na existência dessa força energética superior e vibratória que nominamos Deus. Apenas isso.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Remontando

Se tá no tempo ou não, sinceramente não sei dizer. O médico disse que sim, a fisioterapeuta também. E a minha vontade, bem, essa já dizia faz tempo. O receio era grande. Fui indo, “pé por pé” como diz o ditado antigo. Primeiro retomando o contato, relembrando na prática o convívio. Tirando na mão, puxando pra aqui e pra lá. Depois, jogando os cacos num comprovadamente macio e calmo. Devagarito, passo por passo. Depois, lidando no jeito, reconhecendo, pegando confiança e sentindo, “escutando” o que a carcaça diz a cada noite. Conforme os dias foram transcorrendo, e o corpo foi dando retorno positivo, a confiança foi se restabelecendo, e juntamente com ela a vontade foi aumentando exponencialmente, assim como a sede de forquilha! E essa meus amigos, só se mata enforquilhado! Sempre consciente que tudo tem seu tempo, e que as retomadas necessitam serem feitas lentamente, saímos só no passo, todos os dias, primeiramente em tempos extremamente curtos. Depois um pouco mais prolongados. Por fim, sem cronometragem. Apenas cuidando o longe que o lombo nos permite. Contemplando a terra, suas paisagens e nuances que só a mescla da natureza com as incisões e interferências feitas pelo homem e sua ação produtiva podem nos oferecer. Escutando o assobio fino do vento no vão do barbicacho, trocando experiência com a montaria, um conhecendo o outro e o outro conhecendo o um. Em lua de trinta já foi possível até uns reboleios e empurrar uma piola, bem na maciota. Falando em montaria, vale uma ressalva à ela. Pingo de lei. Beleza, função, presteza e mansidão. Cavalo de valor e de valia. Não por acaso, traz no nome uma das coisas que mais me agrada e me atrai: Fogo de Chão! Pingo e pico! Gateado bala na rédea e senhor numa campereada. Eles, sempre eles, os cavalos, nos proporcionando situações impagáveis, momentos indescritíveis e lembranças memoráveis. Sim, sou totalmente suspeito para falar. Porém é o que acontece. Que me acontece! Gratidão. Bem como disse em alto e bom som, com a face sulcada, as rugas molhadas e voltadas para o sol (que naquele dia em específico, escaldava), desenhando o lombo da coxilha recém colhida: Grato! Por mais simples e normal que possa parecer o momento, o significado pessoal e individual só sabe quem tá ali. Quem se sentiu ameaçado e numa iminência velada de não poder mais desfrutar desses momentos. É o sentimento que aflora. E assim seguimos, sem pressa, recolocando a vida nos trilhos, buscando, em meio às asperezas da vida e rigor das rotinas, estes momentos de relaxamento, prazer e regozijo. Todos merecemos. Cada um do seu jeito e com aquilo que gosta. Eu gosto de cavalos, e do todo o que lhes envolve e encampa. E sempre e enquanto puder, com eles vou estar! Simples assim...

terça-feira, 28 de abril de 2020

Chão de Nosotros

Já sentiu, do nada, uma sensação esquisita ao chegar e estar em um lugar? Esquisita, porém boa. De preenchimento, de pertencimento? Estranho não? Saber que é apenas um visitante, nada mais que isso. Estando ali, se propõe a ajudar como pode, e preza por não atrapalhar nada, pois muito ajuda quem não atrapalha, já diz o ditado. E mesmo assim a cada momento parece que saiu apenas dar uma volta e voltou rapidamente. Confesso que é estranho barbaridade. Mas é real e verdadeiro. Sentimento permanente. Coisa de louco, bem sei, mas fazer o quê? É a realidade vivida. Nestes tempos de vida sacudida “de cabo à rabo”, tendo que ficar confinado forçadamente, os pensamentos e lembranças nos tomam de assalto, como que quisessem nos fazer voltar no tempo e reviver, reparar, refazer. E creio, são estes filmes das retinas, todos, os memoráveis e os nem tanto, que alimentam essa estranheza sentida. Sabores, odores, sons e visões de passados remotos, misturados com saudades de infância e juventude dão um caldo cultural pessoal e familiar encorpado e consistente. Temperados por uma vivência e convívio fortes, moldados pelo gauchismo, pelo campo, pelo agro. Tem-se o alicerce desse sentimento e entendemos sua origem. Trator ronca, colheitadeira corta léguas, caminhão carrega, boiada muge, portão bate, cavalo relincha, xerga sua, pelego sova, agulha na vacagem, poeira na mangueira, carne, feijão, arroz, batata, mandioca, couve, bacon, fogão à lenha, lareira, churrasqueira, chimarrão, cavaco, lenha, cepo, panela, disco, espeto, grelha, frigideira. Tudo, simplesmente tudo, se afeiçoa, tudo completa, tudo revive. O tendeu de informações no começo deixa atrapalhado, depois se acomoda, traz entendimento e aos poucos gera o vislumbre de futuro, tanto imediato quanto em longo prazo para o lugar e suas possibilidades. E os dias transcorrem de forma imperceptíveis. Qualidade de vida inconteste. Ar puro, água de qualidade, banho revigorante, comida qualificada e com sabor diferenciado, sono reparador, noites de luxo. Isto posto, não demora e não deixa por mistério saber o porquê esse sentimento se aloja e se estriva num teatino. Pois nos acostumamos fácil ao que é bom e nos faz bem. Simples assim. Os momentos de gratidão, as conversas solitárias e bem fundamentadas com o astral, as orações e rezas deram conta de deixar o ar leve, respirável, dentro do que nos é possível, enquanto reles seres em desenvolvimento. Pois temos, sabemos bem, tudo dentro do que merecemos. Nem mais e nem menos. Podem e é possível que digam que isso não é vida. Discordo. São visões exteriores, de quem lança olhares supérfluos e se detém apenas ao que o olho vê. Digo por mim mesmo. Ver de fora e estar dentro é diferença contrastante tipo noite e dia, sal e açúcar. Não se pode emitir parecer sem conhecer. E para conhecer, nestes casos, só vivendo. Olhando, “necas de pitibiribas” como diria minha querida avó! Se aventure a ir nestes locais e “tirar tempo” para re-vivenciar estes locais. Será surpreendente, te digo! Pra mim, fez bem, trouxe muitas coisas de volta. Me deparei comigo mesmo e me percebi, me enfrentei, me encarei. É transcendental. Ímpar! Grato à vida e aos que possibilitam estas experiências! Meu mais honesto muito obrigado, do fundo do coração!

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Sobrevida

Então. Foi tudo ótimo. Os momentos se passaram de forma tranquila e serena. As atividades se desenvolveram na forma e jeito costumeiros, contornando os percalços conforme estes apareciam. Resumindo rapidamente, foi tudo ótimo! Inclusive os acirramentos de ânimos se dissiparam. Sinal de maturidade erigida ao longo das vivências individuais, ensinamentos e aprendizados delas colhidos. Ou talvez, amansados pela saudade definida pelas memórias e relembranças que voltam à retina toda vez que o sentimento de longitude se faz presente, trazendo o gosto amargo que o tempo e sua celeridade indelével teima em nos marcar fortemente os campos afetivos. Fato é, que, se o tempo passou e dele tiramos boas lições, enquanto eternos aprendizes da vida, não foram momentos vãos. E é disso que alimentamos alma, espírito e intelecto. Aprendizado, evolução, ensinamentos colhidos. Sempre há o que aprender, e mesmo que não se pretenda, é possível também ensinar. Pelo exemplo, pela atitude, pela ação. Aliás, sou um entusiasta convicto da ação. Somos o que fazemos, não o que dizemos. Nada adianta discurso se não há prática. Se os dois se completarem e complementarem, ótimo, senão, o discurso é vazio e perde o efeito rapidamente. E nesse ponto, o agro e seus atores são mestres. Ali, “a coisa” anda! Não tem espaço e nem tempo para preguiça ou devaneios improdutivos. Tem que fazer, tem que dar jeito e tem que ser já! Simples assim. Gratidão define essa pequena vivência. Pelo dinamismo, pela celeridade calculada e sua imposição nos momentos mais tensos. Afora os intensos, embora curtos, momentos de lazer que trazem o doce gosto de reminiscência. Sabores e relembranças de infância e juventude. Muito bom! Fantástico, eu diria! E claro, como nunca tudo são flores, mas depende de cada um (atitudes, lembram?) optar pela forma de como lidar com os momentos, sobrou uma última lição no apagar das luzes. De imediato, fiquei com aquele sentimento do “e agora”? Terminei o caminho de volta remoendo os pensamentos, buscando um contorno plausível para o fato. Confesso, me pareceu que impactou mais forte em mim que no dono. Mas, impressões são impressões, e quando não bem avaliadas nos induzem a erros. Alguns crassos, inclusive. Pois bem, diante de tantos exemplos vivenciados, não me restava outra alternativa que não agir, mesmo não tendo nem o cacoete, quiçá talento para o trabalho. Enfim, mesmo com todas as limitações, tá refeito! Obviamente, não é igual ao que era, nem original, apenas segue em condição de uso por mais um bom tempo. Uma “sobrevida” para o artefato, como diria o gaúcho.

Escolhas

E o tal de vírus chegou. Sem licença, sem aviso, sem sinal. Sem vergonha! De surpresa, de mansinho, de carona. De fato! Pegou idoso, pegou criança, pegou adulto. Pegou pesado! Tirou trabalho, tirou serviço, tirou emprego. Tirou muito! Encarcerou, desencarcerou, isolou, juntou. Expôs, desnudou, acolheu, desguarneceu. Vitimou, fatalizou, acometeu, escarneceu. Trouxe de maneira visceral o melhor e o pior da humanidade, ladeado e inflado por uma crise econômica. Tem sido motivo de toda sorte de manifestações. E o que se tira disso? Quais as lições supra que levaremos conosco depois disso tudo? E quais as lições pessoais que cada um de nós terá tido? Quais os ensinamentos? Quais os aprendizados? Enquanto sociedade, mudaremos nossa forma de encarar os fatos e situações? Traremos em nosso fronte o sentimento de humanidade para o dia a dia? Será ele o norteador das ações pessoais e comunitárias daqui em diante? Ou continuaremos exercendo a soberba, a arrogância e a prepotência escondidas atrás das desculpas impulsionadas por cifras, dando continuidade à perversidade e sordidez, alimentando o lado malévolo da natureza humana, e buscando a isenção dos fatos através do repasse da culpa para o capitalismo, que nós mesmos tornamos selvagem? Ou sairemos disso com um forte impulso de retomada de valores éticos, morais e sociais, pensando em ações coletivas, olhando para os semelhantes de maneira fraterna e igualitária? Seremos motivados a refletir profundamente sobre como chegamos à esse ponto? O que fizemos de certo e de errado até aqui? Acredito ser uma ótima opção e uma ação sábia e importante, além de cair como uma luva para o momento. Estamos confinados, muitos com as famílias, alguns com os colegas, outros exercendo a solitude. Porém, todos, de alguma maneira, parados em seus cantos e pontos. Vale tirar tempo, este mesmo tempo que foi motivo de muitas desculpas, de muitas reclamações e discussões, por ter sido escasso, por correr demais, por causar frenesi. Tirar tempo e refletir. Refletir demorada e profundamente. Entender, dentro da possibilidade e compreensão de cada um, o que somos, qual o poder que temos? O que mais nos vale? Quem mais nos vale? Peso minhas escolhas analisando seus impactos e consequências? Ou penso somente em mim e no momento? Minhas análises são fugazes como o momento da decisão? Ou mais profundas analisando o entorno e tudo que envolve? As respostas serão diversas. Assim como diversa é a humanidade e suas realidades e situações. Vejo que, se essa pausa forçada servir de início para uma mudança de rumo individual, naturalmente nos fará mudar também o coletivo. E o legado que ficará será positivo. Obviamente, não podemos ser utópicos e achar que sairemos de onde estamos e passaremos a viver no mundo encantado. Não é isso. As mudanças ocorrem de forma sutil e levam algum tempo para se efetivarem. Mais ainda para serem absorvidas pelos mais resistentes. E sim, há os céticos. Sempre haverá. Estaremos daqui alguns anos, comentando sobre esse tempo, e veremos levas de pessoas idolatrando jogador de futebol, tratando mal o porteiro e fazendo troça do gari. Continuaremos vendo um médico (alguns, não todos) exigir ser tratado como “Dr” e uma faxineira pedir por favor para ser atendida em um banco (dada a diversidade de pessoas que trabalham nessas instituições). Situações corriqueiras desse Brasil extenso e desigual. Porém, também veremos pessoas olhando e tratando de forma igual e respeitosa esse mesmo jogador de futebol, esse mesmo porteiro, e esse mesmo gari. Assim como veremos (já vemos) médicos pedirem para serem tratados apenas pelo nome, e faxineiras sendo tratadas com extrema atenção e cortesia em bancos (diversidade gigante de pessoas, lembram?). E é nesse ponto que a esperança de dias melhores se enraíza. Temos o bom e o mau lado a lado. A opção é nossa. A cada momento, a cada instante. A cada ação, a cada gesto. Se a maioria optar pelo bom de forma consciencial, acabará, com o tempo, por levar de forma inconsciente essa minoria que não opta. E aí a mudança se concretizará. Não vai ser fácil e creio que não será rápido (quero muito estar errado). Possível e real, sim. Cabe aqui uma observação já batida: Tudo que é bom exige esforço. E você? Como andam suas escolhas e opções?