quarta-feira, 29 de abril de 2020

Remontando

Se tá no tempo ou não, sinceramente não sei dizer. O médico disse que sim, a fisioterapeuta também. E a minha vontade, bem, essa já dizia faz tempo. O receio era grande. Fui indo, “pé por pé” como diz o ditado antigo. Primeiro retomando o contato, relembrando na prática o convívio. Tirando na mão, puxando pra aqui e pra lá. Depois, jogando os cacos num comprovadamente macio e calmo. Devagarito, passo por passo. Depois, lidando no jeito, reconhecendo, pegando confiança e sentindo, “escutando” o que a carcaça diz a cada noite. Conforme os dias foram transcorrendo, e o corpo foi dando retorno positivo, a confiança foi se restabelecendo, e juntamente com ela a vontade foi aumentando exponencialmente, assim como a sede de forquilha! E essa meus amigos, só se mata enforquilhado! Sempre consciente que tudo tem seu tempo, e que as retomadas necessitam serem feitas lentamente, saímos só no passo, todos os dias, primeiramente em tempos extremamente curtos. Depois um pouco mais prolongados. Por fim, sem cronometragem. Apenas cuidando o longe que o lombo nos permite. Contemplando a terra, suas paisagens e nuances que só a mescla da natureza com as incisões e interferências feitas pelo homem e sua ação produtiva podem nos oferecer. Escutando o assobio fino do vento no vão do barbicacho, trocando experiência com a montaria, um conhecendo o outro e o outro conhecendo o um. Em lua de trinta já foi possível até uns reboleios e empurrar uma piola, bem na maciota. Falando em montaria, vale uma ressalva à ela. Pingo de lei. Beleza, função, presteza e mansidão. Cavalo de valor e de valia. Não por acaso, traz no nome uma das coisas que mais me agrada e me atrai: Fogo de Chão! Pingo e pico! Gateado bala na rédea e senhor numa campereada. Eles, sempre eles, os cavalos, nos proporcionando situações impagáveis, momentos indescritíveis e lembranças memoráveis. Sim, sou totalmente suspeito para falar. Porém é o que acontece. Que me acontece! Gratidão. Bem como disse em alto e bom som, com a face sulcada, as rugas molhadas e voltadas para o sol (que naquele dia em específico, escaldava), desenhando o lombo da coxilha recém colhida: Grato! Por mais simples e normal que possa parecer o momento, o significado pessoal e individual só sabe quem tá ali. Quem se sentiu ameaçado e numa iminência velada de não poder mais desfrutar desses momentos. É o sentimento que aflora. E assim seguimos, sem pressa, recolocando a vida nos trilhos, buscando, em meio às asperezas da vida e rigor das rotinas, estes momentos de relaxamento, prazer e regozijo. Todos merecemos. Cada um do seu jeito e com aquilo que gosta. Eu gosto de cavalos, e do todo o que lhes envolve e encampa. E sempre e enquanto puder, com eles vou estar! Simples assim...

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