segunda-feira, 27 de abril de 2020

Escolhas

E o tal de vírus chegou. Sem licença, sem aviso, sem sinal. Sem vergonha! De surpresa, de mansinho, de carona. De fato! Pegou idoso, pegou criança, pegou adulto. Pegou pesado! Tirou trabalho, tirou serviço, tirou emprego. Tirou muito! Encarcerou, desencarcerou, isolou, juntou. Expôs, desnudou, acolheu, desguarneceu. Vitimou, fatalizou, acometeu, escarneceu. Trouxe de maneira visceral o melhor e o pior da humanidade, ladeado e inflado por uma crise econômica. Tem sido motivo de toda sorte de manifestações. E o que se tira disso? Quais as lições supra que levaremos conosco depois disso tudo? E quais as lições pessoais que cada um de nós terá tido? Quais os ensinamentos? Quais os aprendizados? Enquanto sociedade, mudaremos nossa forma de encarar os fatos e situações? Traremos em nosso fronte o sentimento de humanidade para o dia a dia? Será ele o norteador das ações pessoais e comunitárias daqui em diante? Ou continuaremos exercendo a soberba, a arrogância e a prepotência escondidas atrás das desculpas impulsionadas por cifras, dando continuidade à perversidade e sordidez, alimentando o lado malévolo da natureza humana, e buscando a isenção dos fatos através do repasse da culpa para o capitalismo, que nós mesmos tornamos selvagem? Ou sairemos disso com um forte impulso de retomada de valores éticos, morais e sociais, pensando em ações coletivas, olhando para os semelhantes de maneira fraterna e igualitária? Seremos motivados a refletir profundamente sobre como chegamos à esse ponto? O que fizemos de certo e de errado até aqui? Acredito ser uma ótima opção e uma ação sábia e importante, além de cair como uma luva para o momento. Estamos confinados, muitos com as famílias, alguns com os colegas, outros exercendo a solitude. Porém, todos, de alguma maneira, parados em seus cantos e pontos. Vale tirar tempo, este mesmo tempo que foi motivo de muitas desculpas, de muitas reclamações e discussões, por ter sido escasso, por correr demais, por causar frenesi. Tirar tempo e refletir. Refletir demorada e profundamente. Entender, dentro da possibilidade e compreensão de cada um, o que somos, qual o poder que temos? O que mais nos vale? Quem mais nos vale? Peso minhas escolhas analisando seus impactos e consequências? Ou penso somente em mim e no momento? Minhas análises são fugazes como o momento da decisão? Ou mais profundas analisando o entorno e tudo que envolve? As respostas serão diversas. Assim como diversa é a humanidade e suas realidades e situações. Vejo que, se essa pausa forçada servir de início para uma mudança de rumo individual, naturalmente nos fará mudar também o coletivo. E o legado que ficará será positivo. Obviamente, não podemos ser utópicos e achar que sairemos de onde estamos e passaremos a viver no mundo encantado. Não é isso. As mudanças ocorrem de forma sutil e levam algum tempo para se efetivarem. Mais ainda para serem absorvidas pelos mais resistentes. E sim, há os céticos. Sempre haverá. Estaremos daqui alguns anos, comentando sobre esse tempo, e veremos levas de pessoas idolatrando jogador de futebol, tratando mal o porteiro e fazendo troça do gari. Continuaremos vendo um médico (alguns, não todos) exigir ser tratado como “Dr” e uma faxineira pedir por favor para ser atendida em um banco (dada a diversidade de pessoas que trabalham nessas instituições). Situações corriqueiras desse Brasil extenso e desigual. Porém, também veremos pessoas olhando e tratando de forma igual e respeitosa esse mesmo jogador de futebol, esse mesmo porteiro, e esse mesmo gari. Assim como veremos (já vemos) médicos pedirem para serem tratados apenas pelo nome, e faxineiras sendo tratadas com extrema atenção e cortesia em bancos (diversidade gigante de pessoas, lembram?). E é nesse ponto que a esperança de dias melhores se enraíza. Temos o bom e o mau lado a lado. A opção é nossa. A cada momento, a cada instante. A cada ação, a cada gesto. Se a maioria optar pelo bom de forma consciencial, acabará, com o tempo, por levar de forma inconsciente essa minoria que não opta. E aí a mudança se concretizará. Não vai ser fácil e creio que não será rápido (quero muito estar errado). Possível e real, sim. Cabe aqui uma observação já batida: Tudo que é bom exige esforço. E você? Como andam suas escolhas e opções?

4 comentários:

Unknown disse...

Ótima reflexão. Muito bem escrito.Parabens !

Unknown disse...

Muito bom . Acho que todos vamos rever nossos conceitos

Unknown disse...

Ótimo texto!! Que o mundo reflita e aplique os conhecimentos adquiridos !! Que não seja somente fogo de palha

Rose Müller disse...

Ótimo texto para uma bela reflexão.