Esses dias li num anúncio de jornal: “amor não se mede, se vive”. Pura verdade. E percebi, a cada vez que digo “eu te amo”, o quanto essa expressão não carrega nem a metade do amor que eu sinto, mesmo sem saber ao certo que tamanho ele tem. Azar. Amor não se mede.
Que coisa doida essa vontade. Vontade louca, sede de palavras. "Tu bebes?"
E lá vai ela cavocar nas entrelinhas do cotidiano, de dentro e de fora de si, um mote qualquer pra transformar em linhas, parágrafos, frase. Poderia falar do sentido de amizades verdadeiras, depois de um reencontro feliz, de mensagens honestas e sensíveis, de amigas que não se vêem, mas se sentem.
Poderia falar dessa força do sentir, que rompe barreiras de distância, de tempo, de coisas quaisquer, quando é verdadeiramente real dentro de alguéns. Poderia falar, por outro lado, da saudade. Da distância entre almas que se aproximam no subjetivo, nas sensações, mas que a distância real deixa quilômetros de tristeza nos olhares que não se encontram mais.
Poderia falar do destino, que cruzou caminhos e que agora os faz distantes. Que a fez feliz quando colocou pérolas na sua vida, mas foi impiedoso ao afastá-las quando parecia haver ainda tanto por viver. Pode, ainda, falar disso, disso que ainda há, desse amanhã que há de reservar esses reencontros, ou outras surpresas felizes. Ela é otimista, e crê na possibilidade de ter por perto os sorrisos que outrora coloriam seus dias. Aliás, esse otimismo a faz crer em tantas coisas...
Poderia, quem sabe, discorrer sobre isso... sobre esse jeito leve, ainda que não descompromissado, de levar adiante os compromissos, as tarefas, as coisas menos e mais prazerosas da vida. Não há nuvem cinza que a impeça de enxergar detalhes que fazem de cada segundo, um instante especial. Não há mágoa momentânea que lhe impeça de sorrir, numa alegria que sempre dura mais que o tempo que uma lágrima leva para molhar o rosto por tristeza. Não há tempo para elas... para as tais tristezas. Porque ela acha que o tempo de vida é precioso demais para passar triste, para virar um passado que se quer esquecer.
Antes do esquecimento, quem sabe tudo isso vire uma poesia, já que a sede, insaciável, persiste mesmo depois do rascunho de um texto despretensioso, que saiu da vontade de escrever sobre o que escrever. Um soneto, uma ode, prosa poética qualquer... quartetos e tercetos que vão ficar pra depois.
Dedução
E ela esperou ansiosamente o vento gelado na nuca, o cobertor pesado sobre o corpo, o leite quente pela manhã. A época da elegância desfila mantas coloridas e botas de cano longo. A grama verde, agora branca, do gelo que “cai do céu”. Tardes ensolaradas e convidativas, a espreitam. “Vamos fugir?”. À noite, delicias gastronômicas e um bom vinho. Bochecha vermelha e o brilho nos olhos. (Lembrou de sua mãe dizendo sentir a perna afrouxar no primeiro cálice).
A cama quente parece manter o corpo imantado nas manhãs geladas. Uma preguiça que logo se esvai, quando a vontade que o dia não termine toma conta, (Afinal, paisagens fotográficas, cinematográficas, estão logo ali, do outro lado da janela). E em silêncio, na janela, ela pede que o sol não se vá “a menos que eu possa vê-lo adormecer...”. E quando ele se vai, o escurecer traz os sonhos e desejos embalados no vento minuano do sul.
Com o nariz gelado, encostado na mão dele, o pé tão gelado quanto, escondido entre a perna dele e o sofá, ela sorri. Para no instante seguinte submergir no abraço longo, quase infinito, que exala a saudade do cotidiano. O blusão de lã azul dele esquenta os dois, mas nada transmite mais calor que a energia trocada ali, no abraço apertado e sincero de quem muito se quer.
Na sala vazia de outros e cheia dos dois, já levantados do sofá confortável sobre o tapete felpudo, ela, recostada no peito dele, sobe na ponta dos pés para chegar próxima ao ouvido, sussura baixinho: “adoro inverno e amo você” (em todas as estações).
Lidy.
Te aprochega, senta com a gente, e entre um gole e outro faz o verbo sair. Vem beber palavras que transbordam em copos sempre meio cheios. Petiscos de ideias com sabor de reticências. Num eterno brinde à vida. tim-tim. Saludos da menina da fronteira, Lidy, e um forte abraço do poeta dos pampas, Marcelo.