sábado, 23 de maio de 2020

Fogão campeiro

Velho e sistema "bugro"
Origens do meu pago
Descendência que trago
Viva no braseiro rubro

Calor que invade a alma
Esquentando mais que a chapa
Deixando firme a ilhapa
Trançando sonhos com calma

Fumega a chapa da esperança
Fazendo tirintar a chaleira
Da aconchegante e hospitaleira
Alma velha e riso de criança

No crepitar da tua chama
Mantém acesa as vivências
Dessas muitas querências
Que nosso tempo conclama

És um altar dos mais chucro
Domado pela gaúcha mansidão
De cozinhar dando tirão
Sem mirar qualquer lucro

A fumaça que faz conduz
As intenções do preparo
E o ferro preto no amparo
Da bóia buena sob a luz

Pois quem pilota o jipe
Sabe a manha e o volteio
Tipo gaiteiro no floreio
Quando o baile quer repique

Chia a chaleira, "aleluia"
Dando vaza pro chimarrão
Que tava feito de antemão
Aguardando no porta cuia

Vem o frito do aperitivo
Atiçando toda indiada
Que já vinha alvorotada
Querendo sorver o do estrivo

Reverenciado e santo ritual
Das heranças da minha gente
Nesse costado sempre contente
Se mira no simples gestual

Reunidos sempre no teu calor
Degustam cheiros e sabores
Diversos e acolhedores
De quem ama com ardor

O fogo e seu chamativo "derredor"
Trazendo seu mágico momento
De parados fazerem movimento
Como arame estendido no corredor

No ancestral fogão campeiro
Evolução vil da dominação
Da flor vermelha e sua vocação
De mostrar o amor rotineiro

É a estampa rude de uma raça
Moldada revidando a intempérie
Que no sul repete em série
Temperatura propícia à fumaça

Nos frios onde o "beiço" arregaça
Nas orelhas, quando assobia o vento
Assemelha o laçasso de um tento
E os dedos encarangam de perder a graça

No calor da boca sem cinzeiro
Se esquenta o povo sulino
Escrevendo o xucro destino
De quem nasceu nesse paradeiro

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