quarta-feira, 20 de maio de 2020

Esvaziando a moleira

Despretensiosamente, se ia o sábado
Corria rumo ao pôr do sol braseiro
A estrada como que chamou o campeiro
E largou, pegando rumo ao tablado

A estância tinha se povoado de pouco
Notícia vinha de prenda nova no rancho
Andava "às voltas", se prevenindo dos carancho
O pai, domador buenacho e bem louco

Reuniu-se a crioulada na volta do galpão
Até tiro pra cima se escutava ao redor
Tenteando ver quem com ele se dava melhor
O gurizote novo cruzava de mão em mão

Tinha prenda gaúcha em quantia no entrevero
Dessas que fala em tom seco sem cortar volta
Pela amabilidade e brandura logo se nota
Que monta a cavalo e corre boi o dia inteiro

A "arreiama" vai pr'os lombo num "prisco"
Cavalhada bem cuidada, pêlo fino, no brilho
Nem suja a xerga com o suor de ração e milho
A rascadeira tenteia, mas não tira nem cisco

A pegada toma forma e logo se principia
E pros lado da mangueira todos se vão
Querendo ver e entender, tipo a multidão
Gurizote, visita, peão, patrão e guria

Repontando a boiada de pêlo enganador
Trazendo pra pega do brete "moderneiro"
Pouco importando se a tropa é de tambeiro
Vem o patrão num flete lindo e caminhador

No embuxar de brete a dupla se "aprecata"
Combinam o saidor pra "formar o conjunto"
Tudo fica mais gaúcho no grito de "tô junto!"
Pois é ali, nessa hora, que a lida "engata"

Corre linda a gateada, forcejando um tento
Se resfolega a colorada, guachada do potreiro
É com ela a lida no campo, educando matreiro
Quando a boiada desrespeita o cercamento

O gateado de toso baixo, tem sede de arreio
Mostra toda a vontade de pingo bem vaquero
E empurra pra dentro o que se vinha cabortero
No disparar da rês, sai dando "de vareio"

Tem máquina, sangue e procedência o cuiudo
É pingo e pico, como diz o ditado da moda
Gaúcho perna ensaboada nele não se acomoda
Pecha de derrubar até o mais "corajudo"

Pra encerrar, a mulher gaúcha mostra talento
Firmezito na gateada, finaliza o trabalho
Paleteia lindo, mostra que entende do baralho
Atraca no bovino como quem garante o sustento

A corrida do boi tem sua beleza e seu encanto
Paleteada é coisa gaúcha, de crioulo chão
A Central Padrillos vai vindo pra função
No Haras Meu Velho, encontra apoio e recanto

Despacito, como quem tenteia milho na gaiola
Vão assistindo, presenciando a gritaria sadia
Se boleiam do alambrado e atracam na correria
Tipo um mango véio, quando a tala se despiola

E assim se finda a tarde nos confins do pago
Banhar o pingo, repassar manso o amargo
Encilhas, mangos e esporas voltam pro galpão
Plantando sorrisos sinceros que só gaúchos entenderão!

4 comentários:

Unknown disse...

Parabéns ! Muito bom (a)
Tens um grande potencial Marcelo ! Aproveite este talento.Beijo no seu coração

Unknown disse...

Parabéns meu grande amigo por esses versos lindos e sinceros! Um grande abraço

Isadora disse...

Muy lindo! Parabéns!!!

Unknown disse...

De fundamento é apelido, um sábado de muito valor transmitido em versos! Que venham muitos e muitos da mesma forma! Um abraço