quarta-feira, 13 de maio de 2020

Tira teia

Por cedo se inicia um dia de lida. A manhã nem tinha dado as caras e o motor roncava. Fazer ar, conferir pneus, água, nível de combustível, entre outros. Quem vai “pro pega”, não pode ter pressa excessiva. Tem que ir numa boa, “bem calçado”. Pega o tranco na estrada, de manso. A manhã vem raiando, e com ela o frio se intensifica. Como dizem os estudiosos do tema, é a troca de energia entre a noite e o dia que refresca (ou gela) a alvorada. Horário marcado, não fica bem cometer atrasos. Gente séria trabalha assim. E por sério nos fazemos, pois a vida cobra logo quem “se boleia” pra fora dos trilhos. Um pastel de respeito pro café depois da abastecida, e se vamo. Encontro efetivado, primeiros assuntos dialogados, para quebrar o gelo, embora se conheça de tempos. Faz a primeira pesagem e segue o rumo. Nessas horas o sol já deu as caras e começa a elevar a temperatura com vontade. O vento é frio. No sul meu amigo, é só tendo saúde de ferro pra aguentar. E como diz os fãs do célebre artista: Não adianta! Tem que tocar! A estrada desce a coxilha com vontade. O rancho é no pé da estrada e a mangueira logo abaixo. Tropa encerrada, serviço andando. Nos confins do Rio Grande funciona do jeito que dá. O aparte é “à unha”, como diz o gaúcho. Toca uma pra lá, volteia outra, gira a tropa, empurra aquele, refuga esse. Larga pra juntar, traz de volta. Segue apartando. E um vai, e logo volta. Vai de novo, e volta. Refuga pela terceira vez. E o alemão vendedor só olhando. Resolvo dar um trato mais “de perto” no teimoso. Não à toa, traz uma coleira de “soga” no pescoço. Miro bem pra não errar o bote, vou certeiro, agarro com a canhota e pendo o corpo, pra fazer “virar de ponta”. Intenção e botada certeira. Só faltou combinar com a corda. Se parte em duas e o vivente sai cambaleando, de costas, buscando no que se firmar pra evitar o pealo. Não tem jeito. Se vamo ao solo com corda e tudo. Esparrama a tropa e tá o corpo estendido na mangueira. Bom início de uma sexta feira com lida o dia inteiro. Que nada. Cada um demonstra cansaço do jeito que quer. “É de livre escolha”, já dizia meu professor de educação física. Falando sério: Que rico pealo! Picanha com força contra o chão, esparramando a boiada. Se assustaram com o tombo e nem por cima se vieram, saíram cada um pr’um lado, Graças à Deus! Entre mortos e feridos todos bem. Sem mancar, sem doer pra movimentar. Foi só o “deita e levanta” e segue o baile! Uns não riram por receio, outros por educação. Mas com certeza todos tiveram grande vontade. Inclusive eu. Esse foi o tal de “tira teia”, pois fazia pares de anos que não ia carregar “fora de casa”. Nessa lida, tem que andar esperto, “de orelha em pé”, pois qualquer descuido pode resultar em uma “pisada”. E assim seguimos, com mais essa peripécia na conta. Ah! Ia esquecendo. Se vissem o tamanho do animal, riam também! Pouquinho maior que um cachorro. É... tem dessas minha gente... Não se ganha todas... Tem vezes que o protagonista da façanha somos nós. Hehehe

1 comentários:

Unknown disse...

Verdade !" tem vezes que o protagonista da façanha somos nós..."
Perfeito !