sexta-feira, 1 de maio de 2020

E aí?

E quando a saudade passa a não ser mais opção? Como dominar o instinto, amansar a natureza do ser e refletir sobre o que e como fazer? E nesta luta eterna entre o que se planeja e o que se torna possível concretizar, o que fazer? Onde e no que se amparar? Quais os exemplos que se podem buscar para usar de esteio, com o pensamento embotado e o raciocínio prejudicado pelo aperto da saudade? Não há remédio, não há vacina. O que se tem é externar a dor pelos gestos. Agir. Ocupar o corpo para que a mente trabalhe e “golpeie” os pensamentos até que “fiquem sujeitos” e se acomodem, de forma que nos tragam soluções plausíveis e aplicáveis na realidade que vivemos, sem exageros e sem esdruxulidades, garantindo o futuro dentro de um mínimo de dignidade e zelo pessoal. E para amparar esse andar com firmeza, a fé e sua capacidade de nos fazer fortaleza! Colocar e manter em pé, firme, alinhavando e coordenando ações e atitudes, amansando as rotinas com suavidade. Conduzindo e trazendo sinergia para o dia a dia. Sem ela, a perdição começa pelo que se pensa e se concretiza pelo que se faz. A falta de fé é o início da negação do amor, e sem amor, nada segue adiante. Sem amor, o que sobra é a maldade, a raiva, o ódio, a inveja. Sentimentos extremamente ruins, que consomem o ser e nos tornam recipientes do mal. Sacudir essa poeira da alma e deixar o calor aquecer o espírito nos fortalece, abre horizontes, traz vislumbres de felicidade adiante. E daí por diante, alimentando a bondade, as situações se passam mais amenas e os sorrisos e olhares se tornam frequentes. Os entendimentos acontecem, os momentos são saboreados junto ao calor do coração, que amparado, se abre e vibra positividade e boas energias. Nessa toada de vibrar o bem, com o tempo passamos a ser luz, e ser requisitados e procurados pelos das nossas voltas. E a saudade, que feito traça carcomia o fino tecido da existência, se esfarela e some, dando lugar à sabedoria aprendida na dura luta dos dias, que a partir de então se transmuta em felicidade plena. Esse mesmo saber acende a chama da acuidade mental e nos impele a ver de forma diferente os momentos mais simples, que estando juntos, preenchem o que antes era lacuna de dor, e ao transcorrerem, traziam sofrimento. E ao não mais nos permitirmos sofrer pelos caminhos que a vida nos conduz, percebemos que estamos no trilho. Que há opções. E que o protagonismo de cada um é responsabilidade individual. Intransferível. No entanto, para se chegar nesse ponto, ela antes se apresenta e nos dá mostras de seu poder dilacerante e desconcertante. Depois de apresentada, nos resta lidar com sua brutalidade educadora. Aí entram nossas escolhas (sempre elas). Trabalhar a favor de nós mesmos ou nos entregar. Nem sempre é fácil visualizar o momento ou entendê-lo. A dor ensina. É mestra dos homens. E creio que o maior de seus ensinamentos é justamente como não trazê-la para si. Como tratá-la para que fique “ela lá e eu cá”. Talvez seja um dos grandes segredos da vida. Talvez seja um dos mistérios da existência. Para dar jeito nessa equação, me valho do que dizia meu amado avô, com seu sorriso não muito corriqueiro: " - Pra que sofrer e chorar, se podemos sorrir e ser felizes?"


“... Não me entrego,
Sou galo, morro e não grito,
Cumprindo o fado maldito,
Que desde a casca eu carrego...”
Fragmento da poesia “Galo de Rinha” de Jaime Caetano Braun.

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