terça-feira, 12 de maio de 2020

Tropeada do amor

Para os momentos que nos faltam ações e sobram tormentos, amor! Para as situações que nos faltam controle e sobram preocupações, fé! Para que sejamos realmente bons e deixemos deitados nos recônditos fundos do ser o primitivismo que nos habita, o qual nos instiga a deixar aflorar o instinto impulsivo, que por ser cru e bruto, nos impele à maldade, doses cavalares de amor e fé! Assim, dosando sempre, trazendo os pensamentos amadrinhados por esta crença, dando fiador às ações e empurrando a culatra dos desejos, nossa tropeada se faz mais amena, mais tranquila. Montado na esperança, repontando despacito a vida por diante, ladeado pelo respeito e pela honradez, caminhamos manso rumo à prosperidade. Berra ao cruzar a estrada a falsidade e sua malícia, e se aquieta quando estalamos a verdade num golpe seco no ar. A honestidade vem carregando o sustento, ringindo o eixo contra a roda da velha carreta do aconchego, onde a família se aninha nos braços da brandura, e a carreta, que avança, sob o sol forte que ilumina o semblante dos viventes, e segue sob a chuva que abastece a cacimba e o embornal das vicissitudes, faz contraponto à lua no horizonte da doçura e do abrigo. A tropeada segue, alimentando os que dela dependem para também seguirem, pois os bons exemplos necessitam fincar pé tipo potranco bem domado na esbarrada, a fim de que a docilidade do comando das rédeas seja a luz do andar. Ninguém é peão sozinho. Por mais sozinho que se ande no campo afora da vida, há sempre um bom amadrinhador pra fazer parelha, e também bons companheiros de jornada, que mesmo ao longe, acompanham o estradear da tropa. Fiéis companheiros, não se perdem no corredor da estrada, e nem fogem da lida quando a coisa enfeia! Ficam pé e metem o facão no toco, não importa o tamanho da pegada. Seguem sempre, cada um com sua sina, campereando suas dores e alegrias. Sedentos por uma nova “olada”, pra continuar escrevendo nas páginas encardidas pelo tempo sua própria história. Aos que lhes olham, onde veem cicatrizes e marcas, é oportuno e de respeito enxergar os rastros de seus passos. São vestígios de longos tempos, que as almas empoeiradas pelas cruzadas apresentam como quem oferece um chimarrão ao que chega. Histórias que se cruzam e se perdem no longevo caminho da existência. A tropeada segue, buscando bonança pra guaiaca, e enquanto não falta os pilas, a bóia é farta e de respeito. Reúne a gauchada pras charlas ao redor do fogo. Encima as abas dos chapéus de picumã e perfuma de fumaça o ambiente, pra não perder o velho costume bugre, de queimar os nós-de-pinhos e enterrar na cinzas o que houver de ruim. Nessa fumaça, transitam a energia das verdadeiras amizades e a vibração das admirações e cuidados. Na roda de prosa e mate, sentam lado a lado, em cepos de angico e camboatã, o bem querer e o apreço. São famílias que se entrelaçam pela tropeada, levando o tempo, esse “pingaço” ligeiro e esperto, por diante. Cada um do seu jeito, cada carreta com seus modos de ser e viver, mas todos com o mesmo intuito: Chegar ao final da tropeada com a certeza de ter distribuído amor e fé e alegria por cada pago que cruzou! E que assim seja sempre!

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